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segunda-feira, 30 de novembro de 2020

COMO ESCREVER UM ROMANCE


 Quando pensei em escrever um romance - nos finais de 2013 - tomei uma série de decisões entre as quais aprender as ferramentas básicas, ou seja, algumas técnicas de escrita porque sempre me pareceu que só as regras de gramática não chegavam e, escrever livremente sem qualquer plano, poderia ser arriscado para uma principiante. Confesso que apesar de ter adquirido algumas noções de como começar a tarefa, não tinha noção das dificuldades que se iam apresentar a partir do momento em que escrevesse a primeira linha. 

Fiz um curso de escrita criativa com um dos nomes do top português ( não vou dizer quem, como é óbvio,) que em pouco me ajudou senão no empurrão inicial. Depois da frustração de seis meses de curso, decidi começar a procurar livros com técnicas de escrita e foi neles que encontrei parte das respostas que procurava, ou seja, técnicas que me ajudassem a estruturar o livro.

Mantive-me no campo das indecisões durante muito tempo, mas há muito que tinha uma história verídica na cabeça que me atormentava diariamente e da qual me queria livrar através da escrita. O meu primeiro romance foi "Princesa do Pai" e foi o único até hoje que não precisei de esquema, pois ele estava todo na minha mente, mas, apesar disso não me podia limitar a escrever os acontecimentos reais sem serem trabalhados antes. Foi uma tarefa árdua em que passei muitos momentos de desespero e de obscuridade. Vou para onde a seguir? Estou a ir bem? Será que os leitores irão entender o que estou a escrever? Será que o assunto não irá chocar demasiado os leitores?

Foi com estas interrogações que nasceu o meu primeiro roteiro/esquema individual, uma espécie de fórmula que utilizo em quase todos os livros que escrevi, depois deste. Vou descrever cada uma das etapas que sigo para escrever livro  e esta é a minha modesta contribuição para partilhar com os autores independentes

Neste artigo estou apenas dando uma visão geral sobre o meu método ao qual pode sempre acrescentar o seu cunho pessoal, tal como eu fiz, depois de muito trabalhar no livro. É importante realçar que o meu esquema não vai ninguém aprender a escrever bem. Desta vez não vamos falar de técnicas "mostrar vs dizer", gramática, ponto de vista entre outros aspectos. Importa também dizer que todas as ideias que tenho - e acreditem que tenho muitas- vão dar boas estórias. Recentemente abandonei um livro por achar a estória pouco convincente. Já sabem que anoto as ideias que vão surgindo enquanto ando na rua, vou às compras, vejo um filme ou uma série, faço uma viagem...num caderno A5 que transporto sempre comigo. 

O que eu faço depois de surgir a primeira ideia e reflectir muito sobre ela é o seguinte:

1- Ideia principal

2- esqueleto da ideia

3- quem são os personagens ( faço arvore genealógica e genograma)

4- uma breve sinopse ( a primeira)

5- uma sinopse mais ampliada

6- decisão - avanço com a estória ou não

7- desenvolvimento dos personagens

8- onde se passa a enredo

9- esquema do romance em traços gerais

10- pontos de vista do personagem

11- estórias secundárias ( se existirem)

12- primeiro rascunho

13 - segundo rascunho ( reescrever o livro todo)

14- rascunho final 

15 - pedir a um revisor ou mais que faça uma revisão dos erros e das ideias

16 - ler e deixar passar um tempo até ler de novo

17 - fazer capas e publicar



Ideia principal

Se tem uma ideia e a quer transformar num romance tem que se assegurar que existe:

Um protagonista

Um objectivo - o que é que o protagonista quer/ deseja

Um local

Um antagonista

Um problema

Exemplo 

Um protagonista - Adriana

Um objectivo - sair de casa dos pais, ser independente

Um local/ tempo - Porto ( 2014)

Um antagonista - O pai

Um problema- Adriana viveu num lar onde a violência domestica era o pão nosso de cada dia. Desce criança que protegia a mãe dos ataques do pai.

Coloque todas as ideias numa única frase como esta:

Quando Adriana pensava que essa noite ia ser diferente, como se tivesse existido um milagre, eis que a chave a entrar na fechadura e o arrastar dos pés do pai, negaram-lhe o desejo. 

Esqueleto do romance

Há um conjunto de pontos de viragem que convém contemplar no livro. Cada um desses pontos pode ser interpretado de um numero infinito de formas, por isso não se preocupe se o seu livro seja como os outros, pois não será de certeza. Uma vez que tenha os pontos de viragem estabelecidos pode passar a um esquema mais detalhado em que pode definir o numero de páginas para cada ponto de viragem. Se o seu livro tiver entre quatro a cinco pontos de viragem não deverá ter mais que 250 páginas. 

Primeiro ponto - o protagonista entra em açção.

Segundo ponto - o protagonista enfrenta o desafio

Terceiro ponto - entram as outras personagens

Quarto ponto - as estórias desenvolvem-se ( do protagonista e as paralelas)

Quinto ponto - o protagonista chega onde quer e a estória acaba. 


Introdução das personagens

Os personagens são a vida da estória por isso é conveniente conhece-los bem e cedo. Para este passo faça anotações sobre todos os personagens principais do livro. Não se preocupe com a profundidade do personagem nesta fase, apenas precisa de um esboço como aparência, motivação...Recomendo fazer anotações de nome, idade, profissão, aparência física, características, resumo do papel na história. 

Breve sinopse

Muito simples. Expanda o esqueleto da história numa página grande ( pode ser uma cartolina), inclua todos elementos chave do seu enredo e qualquer coisa que ache importante. A sinopse é curta para que possa pensar sobre os detalhes posteriormente. Na próxima etapa adiciona mais detalhes. 

Sinopse ampliada

Agora pode acrescentar detalhes colando folhas nos lados da cartolina. Com este esquema fica com a escrita muito facilitada. 

Decisão 

Antes de avançar muito no enredo tenha a certeza que está bem estruturado, sem lapsos temporais ou históricos ou de lugar. O melhor método para ter a certeza que vai continuar é voltar a verificar se o seu personagem tem um objectivo, se alcança o conflito, se existe o aumentar do problema, se o personagem é confrontado com o dilema, se o personagem toma uma decisão, o que significa que o personagem tem um novo objectivo. 

Se o seu livro passar por estas etapas, objectivo, conflito, desastre, dilema, reacção e decisão, então o seu romance pode ter pernas para andar. 😏 Estes elementos não precisam de ter o mesmo peso e, dependendo da atenção que dá a cada um deles isso vai afectar o impacto/sensações da sua estória. 

Desenvolvimento do personagem

A estória está agora tomando forma e é tempo de se dedicar a cada um dos personagens. Existem alguns métodos que pode usar para obter a "pele" dos seus personagens. Inclua a infância, adolescência, idade adulta/jovem até ao presente em que se encontram no livro. Pense no que as personagens querem alcançar. Faça saltos no tempo, recuando à infância para elucidar algum acontecimento ou tomada de decisão. 

Localização

O titulo por si só já é bastante claro. Faça uma lista dos locais onde a acção decorre e faça anotações sobre esses lugares. O local afecta o humor dos personagens, tenha isso em conta quando muda de cenário. Se foi feliz naquela casa, pois o humor é de felicidade,  se sofreu algum trauma, é natural que tenha medo, e evite o lugar. 

Sinopse longa

Nesta altura pense se está tudo alinhado e os personagens estão todos no sitio. Pense no desenvolvimento dos personagens, nos enredos, pistas e pontas soltas que precisam ser ligadas. Perceba se está tudo certinho, porque é mais fácil do que quando tiver cinquenta mil palavras para rever. 

Pontos de vista do personagem

O ultimo passo antes de começar a esboçar o primeiro rascunho do livro é verificar se está a dar a importância devida a cada personagem, não vá um personagem secundário ser mais interessante que o protagonista e assim desvirtuar a estória. 

Primeiro rascunho

Conseguiu! Tem na sua frente um primeiro rascunho do seu livro. O primeiro rascunho demora sensivelmente um mês. Ao fazer o primeiro rascunho não se preocupe com a qualidade da escrita, gramática, pontuação...preocupe-se em mostrar a sua história. O objectivo do primeiro rascunho é obter as palavras escritas. Aprende-se imenso com a escrita do primeiro rascunho. 

Segundo rascunho

Finalmente pode começar a limar arestas no seu livro. Verificar a gramática e pontuação, livrar-se de clichés, cortar frases desnecessárias, eliminar advérbios desnecessários. Certificar-se que está a MOSTRAR, não a DIZER. 

Rascunho final

Durante a escrita do rascunho final, tem que ser muito paciente, impiedoso no corte de palavras e cenas desnecessárias, ter atenção aos detalhes. Agora basicamente é editar, editar , editar...ou seja, polir a sua escrita. Mas calma, ainda não acabou. Agora guarde o seu livro durante umas semanas. Não lhe toque. 

Revisão

A primeira revisão/leitura deverá ser feita por si, quando o livro já tiver saído da sua cabeça, ou seja, quando já amadurou uns tempos. Se ler o livro quando o acabar de escrever, não vai perceber metade dos erros que ainda lá estão. Então arrume numa pasta do seu computador ( não se esqueça de fazer cópia de segurança) e deixe ficar. Já leu? Óptimo. Corrigiu muito erro não foi? Bom, parece que já está bom para ser publicado. Não, não está. 

Revisão final

A ultima revisão deverá ser feito por um revisor oficial, ou seja, alguém que tem formação para essa tarefa. No entanto, é quase impossível a um escritor independente pagar um serviço que é pago à palavra, e num livro de 250 páginas rondará os 600 euros. Então como contornar esse problema? Peça a alguém conhecido ( que não seja seu amigo) que faça essa tarefa se a pessoa estiver de acordo, fazendo o pedido como se o livro fosse de um conhecido seu. Não assine o seu nome na cópia impressa e acrescente uma série de perguntas para o leitor responder no final. Peça a opinião final sobre o livro, enredo, personagens, factos históricos, credibilidade da estória, sentimentos que o livro despertou no leitor. 

E pronto! Este é método que uso para escrever os meus romances. Não é único nem original, é produto de muita pesquisa e estudo. Espero que lhe sirva de alguma coisa o meu modesto contributo para ajudar os autores independentes a aventurarem-se na escrita. 

Um último conselho

Prepare-se para criticas negativas porque nunca vai agradar a todos. Mas ignore e siga em frente. 


sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Edição tradicional vs edição independente


A edição tradicional ao mesmo tempo que é segura e tem uma base supostamente sólida é também muito restritiva. Não pode escolher a capa, vê o conteúdo da sua escrita alterado por sugestão do editor, mesmo o nome do livro pode não ser escolhido por si ( a não ser que seja um escritor consagrado ) e no final não recebe mais de 20% do valor das vendas, valor esse que você nunca controla. Essa é uma das razões apontadas para o emergir da auto- publicação nos últimos anos, mas há mais. Quando alguém escreve uma obra que quer publicar quase sempre vê as suas expectativas goradas ao enviar o manuscrito para editoras e não receber nenhuma resposta. Nem que seja a dizer que aquilo que escreve não tem interesse literário e não se aplica ao mercado. Mesmo assim não desista, se quer escrever vale sempre a pena. Mostre a amigos, inscreva-se nas plataformas de escritores e leitores, onde pode publicar o seu livro e obter feed back dos leitores.

Voltando ainda à publicação pela forma tradicional, nunca aceite publicações em que tem que pagar os livros. Há editoras que trabalham dessa forma. Aceitam a obra mas obrigam o autor a comprar os livros. Essa é uma proposta desonesta. No final você fica com os livros para vender e sem o seu dinheiro. Essa é uma forma perversa de aproveitamento do trabalho dos autores. E se lhe disserem que a editora não pode arriscar por ser um autor desconhecido, não acredite, trata-se apenas de uma forma de fazer dinheiro à sua custa. 

A publicação independente veio revolucionar o mundo dos livros. Milhares de escritores de todo o mundo publicam hoje nas plataformas online que aceitam escritores independentes e já dispensaram as editoras. Motivo: tem total controlo sobre as suas obras e ganham três vezes mais. Nos ebooks ganham entre 35% e 70% (dependendo do preço do livro) e nas publicações em papel ganha 35%, com a vantagem de poder comprar os livros em papel (que ficam muito baratos) e poder vende-los ao preço de livraria no seu blog ou site.

Nos últimos anos surgiram várias plataformas para escritores independentes. É o caso da gigante Amazon (onde autores consagrados também vendem) Kobo, Bookess, Google Play, Escrytos, são algumas das editoras que aceitam autopublicarão.
A auto publicação tem uma longa história e mesmo autores consagrados (Mark Twain, L.Ron Hubbard, Edgar Allen Poe) fizeram-no no passado antes de terem obtido o sucesso. Quanto às plataformas de publicação a amazon é quem oferece mais condições ao autor independente. Para além da possibilidade de poder publicar em papel (com óptima qualidade a preços baixos) tem também a publicação em ebooks ( KD Select – Kindle) plataforma que abriu os horizontes dos autores. Todos gostaríamos de ver os nossos trabalhos nos escaparates das livrarias, esse ainda é um sinal de credibilidade e muitas pessoas ainda pensam que autor independente não tem qualidade, mas pessoalmente creio que o meu trabalho não renderia tanto como nestas plataformas. Qual é o crivo para os autores independentes? Quem é que avalia a qualidade do seu trabalho? Os leitores. Quando um livro não tem qualidade não vende. É impossível vender um mau livro ou uma história mal engendrada. 
Caros autores, querem publicar e não sabem como? Comecem por publicar os vossos livros aqui, obtenham opiniões ( leva algum tempo, nada acontece no imediato) e depois aventurem-se na publicação. Em breve escreverei mais sobre a autopublicação.