domingo, 28 de dezembro de 2014

Escrita criativa- personagens egoístas e arrogantes.


   Não há romance que não tenha um personagem antipático, ou muito arrogante, mas que consegue manter a atenção do leitor. Ele tem qualquer coisa que nos deixa presos e a querer saber mais. Dou como exemplo o personagem masculino da saga familiar “ Anna” e “Gabrielle” que é detestável, mas possui um conjunto de características que nos faz gostar dele. Quando estava a escrever o primeiro livro, pensei transformá-lo num homem diferente (mas isso seria alterar o rumo do romance), pela simpatia que irradiava em conjunto com toda a personalidade perversa. Não vou revelar mais, poderão ver por vocês quando os livros saírem.
Truques para manter o leitor interessado se o personagem principal é egoísta, rude, perverso…
·         O personagem ter amor a alguém (pode até ser um animal) ou alguma causa em especial. As ligações a animais funcionam muito bem para personagens antipáticos.

·         Se o personagem é estúpido, idiota, mas gosta de alguém, pode ser uma pessoa idosa, prende o leitor pela compaixão.

·         O personagem é mau, mas tem dúvidas sobre as suas acções e ao longo do livro os remorsos começam a surgir. Como leitora adoro personagens desse género.

·         O personagem tem todas essas características menos simpáticas, mas o escritor deixa em aberto o decorrer da acção e o personagem é imprevisível e subitamente começa a fazer boas acções, ou a ser mais simpático. Dou como exemplo a personagem masculina do romance “Sedução irresistível “ de Elizabeth Hoyt, que era arrogante, desfigurado pelos traumas de guerra, chegava a ser mau, mas deixava adivinhar que qualquer coisa ia mudar nele. Era impossível não gostar do Alistair. Outro exemplo, para quem se lembra de "E tudo o vento Levou", é Reth Butler, o personagem masculino, rude, grosseiro e quase detestável, mas que grangeou a simpatia do leitor e no cinema do público. 

·         O personagem é mau carácter mas está em perigo e isso entusiasma o leitor.

·         O personagem é muito mau, mas os outros são muito piores, o que faz com que o leitor simpatize com ele.



segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Plataformas de auto-publicação


A revolução digital veio para ficar, e a auto-publicação também, possibilitando a milhares de escritores pelo mundo fora realizarem o seu sonho. O fenómeno do e-publishing, ou "auto-publicação" ganha diariamente novos adeptos e existem muitos casos de sucesso que dispensam as editoras convencionais. Muitos escritores desistiram de enviar manuscritos para editoras sem obter qualquer resposta, ou em muitos casos serem convidados a comprar os próprios livros para depois ficarem entregues a si próprios na publicidade venda. Com a evolução da era digital, o filão da "ficção digital", até então refúgio de escritores iniciantes e amadores que escrevem exclusivamente para a internet, começa a atrair autores consagrados e com uma longa história de publicação em editoras convencionais. A globalização, ao nível da publicação digital, tem possibilitado que escritores iniciantes vendam os seus livros ao lado de autores que já venderam milhões de livros, como Nicolas Sparks, Lesley Pearse, Ken Follet entre muitos outros.
Nos EUA, a escritora amadora Amanda Hocking, de 27 anos, chegou à marca de 1,5 milhão de e-books vendidos no site da Amazon. o que levou Amanda a vender os seus livros na internet foi a rejeição das editoras convencionais. Há dois anos sem dinheiro, e decepcionada com as respostas negativas aos seus livros de monstros e vampiros, Amanda pegou numa das suas obras e a colocou à venda na Amazon, chegando à marca de 150 mil exemplares em apenas seis semanas.
Há sempre vozes dissonantes em relação à publicação em formato digital, no entanto creio que esse processo ainda não enfraqueceu as vendas em papel. As editoras que possibilitam ao autor independente, publicar em ebook , também publicam em papel, sob demanda, ou seja, o livro só é impresso quando a encomenda é feita. Quer isso dizer que quem gosta de sentir um livro em papel – eu ainda não dispenso o livro em papel, embora venda mais ebooks – pode escolher entre os dois formatos.
Outros problemas têm-se colocado ainda em relação aos autores independentes, relacionados com as críticas sob a qualidade do autor independente, por não existir um crivo (revisor, editor… ) que aprecie esse trabalho. Quanto a isso podem ficar descansados pois o que não presta não vende e tem críticas negativas. O autor independente vive muito da apreciação que os leitores deixam nos sites de venda, e podem acreditar que são extremamente verdadeiros sob o que leram, não hesitando em deixar críticas negativas se não gostarem, afinal o leitor pagou pelo livro; o que não acontece com os autores convencionais, pois a não ser que algum crítico literário faça uma apreciação, ninguém sabe o que pensam daquela obra em particular, senão ao fim de algum tempo. 
Em meio aos prós e contras desse negócio, não se pode negar a mudança nos hábitos de leitura e escrita que ele representa. O florescimento das publicações on-line pode ser um caminho possível diante das restrições de mercado e da recusa em as editoras apostarem em novos autores. Se tem um livro escrito e acha que tem qualidade para publicar, as hipóteses são imensas, e basta fazer uma pesquisa na internet que descobre várias plataformas onde pode publicar de graça. Pode publicar na amazon (com várias lojas pelo mundo) e pode inscrever-se de forma gratuita na Createspace.com, em inglês mas com a ajuda do Google tradutor é fácil de usar, e tem uma possibilidade muito interessante de publicar em papel, ou na Kindle (também da amazon) também muito fácil de usar. Se publicar na Createspace quando colocar o seu livro em papel, o sistema converte-o automaticamente para ebook com vista a publicar na Kindle. A minha experiencia com a amazon tem sido muito positiva.
Existe ainda a Kobo.com, a Google Play, a Bubok em Portugal (vou iniciar a minha publicação nesta plataforma portuguesa) a Lulu.com, e muitas outras grátis. Claro que todas elas têm serviços editoriais que o escritor usa se quiser. Se souber ou tiver quem lhe faça as capas, sempre o mais complicado (pessoalmente criei um estilo de capa com a ajuda de um designer) não precisa contratar os serviços das plataformas. Noutro post iremos falar sobre o processo de publicação detalhadamente.


sábado, 20 de dezembro de 2014

Estruturar o livro

Imagem retirada da internet

Nem todos os escritores têm necessidade de estruturar o livro servindo-se de um Plot (esquema dos acontecimentos do livro, linha orientadora) e planeando os capítulos passo a passo. Há quem inicie a escrita seguindo apenas a ideia que desenvolveu e, ao longo do livro vá deixando fluir as ideias para no final chegar onde pretende. Outros planeiam cuidadosamente capítulo a capítulo. Não há uma forma certa. Cada escritor faz da forma que se sente mais confortável. Já usei as duas formas e achei a primeira muito difícil de seguir. Se estivesse sem escrever um dia tinha que voltar a rever tudo de novo, perdia-me facilmente. Actualmente é impensável não planear o livro com cuidado, com Plot, capítulos e dois finais possíveis.  
O que é um Plot?
Plot é um conjunto de acções interligadas e que dizem respeito a um personagem que tem um conflito (interno ou externo) e que precisa atingir um objectivo para o resolver. Esse conflito pode ser simples ou mais difícil e que necessite da acção de vários personagens que ao longo do livro entram e interacção com a personagem principal. Quanto mais difícil for resolver o conflito mais interessante se torna a obra.   

Em primeiro lugar começo por definir a ideia subjacente ao livro. Depois as personagens e os cenários onde decorrem (faço uma biografia para cada personagem, mesmo que sejam secundários) e no início do livro apresento-os um a um sem revelar muito. Com cerca de um terço do livro escrito (20.000 palavras) há um ponto de viragem em que o conflito fica no auge. Dependendo da história, até esse ponto a história cresce e apresenta os diversos problemas e, quando atinge o climax, inicia um decrescendo em que a trama principal do livro começa a resolver-se até ao final. Mas, outras situações podem acontecer e, nomeadamente existirem diversos pontos de viragem ao longo da história, o que torna a trama mais interessante. Voltando à estruturação do livro, depois do plot definido (uso uma folha A3 onde faço o esquema com personagens e cenários) e essa folha fica pregada num placard em frente à minha mesa de trabalho. Depois escrevo a biografia dos personagens. Nada muito exaustivo, mas que contenha características físicas e psicológicas que ao longo do livro sejam possíveis de mudar à medida que o personagem cresce. Depois, com a orientação do plot esquematizo os capítulos com as diversas cenas a escrever. Quanto aos cenários também faço uma pesquisa muito exaustiva. No livro “Brincos de Princesa” não foi necessário, conheço bem todos os cenários onde a acção decorreu, e o mesmo se passou com “Sonhos Adiados”. Convém descrever os cenários com veracidade e, se não conhecer pesquise bastante, a internet é uma boa fonte de recolha de informação, pode usar a Google Earth para pesquisar os cenários físicos. Finalizado este trabalho que também leva algum tempo inicio a escrita dos capítulos e sigo o esquema dos capítulos e das cenas, podendo deixar de escrever a qualquer momento, e retomar sem me enganar na informação. Bom trabalho.  

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

E. Lockhart- Quando éramos mentirosos

Confesso que o que me motivou a pegar neste livro foi o título, que achei deveras curioso. Foi uma leitura que não foi fácil ao início. Mas como sou persistente continuei, e ao fim de algumas páginas fiquei completamente embrenhada com esta família abastada (que tem uma ilha privada) mas com segredos e contornos relacionais estranhos. Um avô preocupado com as heranças, um pai manipulador e as mulheres adultas da família vivendo uma rivalidade entre elas. O que inicialmente parecia um conto juvenil transformou-se numa narrativa adulta e com sofrimento. O facto de a narradora ter sofrido uma pancada na cabeça deixa-nos na dúvida sobre a veracidade dos acontecimentos, mas no final a surpresa é total, não esperava. Talvez por defeito de profissão (mas não só), sou apaixonada por histórias de vida, e este livro fala de encontros, desencontros e mudanças, de objectos e objectivos, no fundo, aquilo que traduz a passagem de todos nós pela adolescência.

 Um livro diferente, pleno de mistério, mas que teve a capacidade de me transportar para dentro do enredo. Não conhecia a autora, mas vou ficar atenta a outras publicações. Vale a pena ler pela singularidade da escrita e do enredo. Recomendo. 

E. Lockhart é o pseudónimo de Emily Jenkins. A autora é doutorada em literatura inglesa pela Universidade de Colúmbia e ensina escrita criativa. É autora de várias obras. 

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Lesley Pearse - És o Meu Destino

O primeiro romance que li da autora foi " Segue o coração..." e fiquei fã da escritora. Li todos os livros que foram publicados em Portugal até agora. Hoje venho falar-vos de " És o Meu Destino" o terceiro livro da história de Belle. A autora apresenta-nos Mari ( a terceira geração, filha de Belle e Étienne cuja vida vai mudar drasticamente quando chega a Inglaterra. Num cenário de guerra a personagem é posta à prova e enfrenta as piores coisas que uma guerra pode trazer: perdas de pessoas e destruição. Mari encontra o amor na viagem da Nova Zelândia para Londres, mas também o perde logo de seguida, e só no final do livro ficamos a saber qual o destino dos personagens. 
A autora tem uma linguagem escrita, fluída, com palavras simples e uma capacidade de perscrutar o interior do seu humano e por isso em palavras que nos deixa presos aos seus livros do principio ao fim. Não é por acaso que é uma das autoras que mais vende nos países onde a sua obra está traduzida. Os romances da autora não são historias de água com açúcar, são histórias de vida que nos trazem sempre grandes dramas da vida humana. Este romance fala-nos de lealdade, amor, coragem e solidariedade e sobretudo de capacidade de resiliência ( superar obstáculos), tudo isto presente nas personagens do livro. Aconselho vivamente a ler a autora. É uma fonte de inspiração para mim desde que leio os livros dela.


Uma das escritoras preferidas do público português, Lesley Pearse é autora de uma vasta obra já traduzida para mais de trinta línguas, tendo vendido cerca de três milhões de exemplares. A própria vida da escritora é uma grande fonte de material para os seus romances, quer esteja a escrever sobre a dor do primeiro amor, crianças indesejadas e maltratadas, adopção, rejeição, pobreza ou vingança, uma vez que conheceu tudo isto em primeira mão. Ela é uma lutadora, e a estabilidade e sucesso que atingiu na sua vida deve-os à escrita. Com o apoio da editora Penguin, criou o Women of Courage Award para distinguir mulheres comuns dotadas de uma coragem extraordinária. Para além de Segue o Coração. Nunca Olhes para Trás, na ASA estão já publicados com grande sucesso os seus romancesNunca Me Esqueças e Procuro-te.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Jardins de Luar - livro em papel.

Excerto do livro
"Isabel fez uma ligeira vénia com a cabeça e permaneceu sentada enquanto ele saia da sala de refeições. Devia ter perto de um metro e oitenta – algo raro nos homens alentejanos- e, o porte atlético de cavaleiro experiente. As calças castanhas justas às pernas, enfiadas nas botas de montar e a casaca verde-escuro com botões dourados, realçavam-lhe a cor dos olhos. Não sendo propriamente um homem bonito era muito másculo. Mas, o que mais surpreendia Isabel era a forma como este homem detentor de um título de nobreza tratava os seus serviçais. Todos os criados gostavam dele, embora todos dissessem que não o queriam ver enfurecido, não queriam ver o lado mau dele. Já tinha percebido que deviam confundi-lo com o velho conde seu pai, esse sim, um ser humano irrascível, segundo a cozinheira lhe contara.  
Há muito tempo que não montava. Quando vivia na casa do pai tinha uma égua só para si. Que saudades de sentir o vento na cara e no cabelo quando galopava pela planície! Subiu as escadas e procurou no velho baú a roupa de montar. O desconhecimento acerca do convento era tal que imaginou que lá, pudesse continuar a fazer as actividades habituais, por isso colocara no baú, quase toda a roupa que possuía.
Vestiu-a rapidamente e encaminhou-se para a estrebaria. Era nestas alturas que se sentia livre. Esta roupa era bem mais confortável que as anquinhas e os espartilhos e depois não havia nada que lhe agradasse mais que estar montada numa cela.
Com cautela entrou no edifício escuro a cheirar a cavalo e, Inácio, um dos moços da estrebaria apareceu na porta quando ouviu o som das botas na pedra do chão. Tirou o chapéu em sinal de respeito e disse:
- Menina Isabel em que posso servi-la? –os seus olhos riam-se sempre que a via.
Inácio tinha sonhos molhados com Isabel desde que ela fora viver para o Solar de Santa Maria.
- Há algum cavalo que eu possa montar? Não o faço há muito anos e gostava de experimentar de novo. –confessou.
- Oh diacho menina! Os cavalos do conde são todos ariscos.- disse para lhe meter medo e fazer-se de valente.
 – Olhe que eu sou um bom cavaleiro e já me atiraram ao chão algumas vezes. – vangloriou-se.
- Que tal o “Arisco”? – disse uma voz grave e ligeiramente rouca atrás de si.
Manuel Afonso dera pela presença dela assim que entrou dentro da cavalariça. Cada vez estava mais intrigado. Quem era esta rapariga? A madre superiora não lhe contou toda a história dela quase de certeza. Por educação não queria perguntar, mas algo lhe dizia que havia um segredo em torno dela.
Inácio fez uma vénia com o chapéu de pele curtida e ficou mudo.
- Estava eu a dizer que lhe podes preparar o Arisco. Parece que a menina Isabel me vai acompanhar hoje.
Ficou perplexa e sem saber que dizer. Não queria ir com ele. Queria ir sozinha e andar livremente pelo campo.
- Perdão…não era minha intenção…só queria experimentar… se ainda sei montar. – disse aos solavancos e muito corada. – Não quero incomodar vossa senhoria.   
- Nada melhor que a minha companhia para testar as suas habilidades. No caso de falha estarei lá para a apanhar.
Quanto mais sério dizia as coisas, mais interessante ficava. Tudo nele transpirava homem - roupa, cheiro, gestos, e sobretudo a voz muito máscula. Conhecia-lhe a voz à distância. Era inconfundível.  
Tinha a resposta na ponta da língua mas refreou-se. Não era adequado responder-lhe na presença de outras pessoas. Não queria ofendê-lo, mas o conde estava a começar a jogar um jogo perigoso para uma mulher virgem e sem experiência. Estava a adorar o pagode, mas sentia que a qualquer momento podia perder a sua inocência. Ou estaria enganada e o homem era apenas mordaz?  
Inácio apareceu com os dois cavalos arreados pela mão e entregou-os nas mãos do conde, pelas rédeas. Manuel Afonso puxou um dos cavalos para perto dela- o branco com um porte majestoso – e ajudou-a a subir para a sela. Para seu espanto Isabel pôs o pé no estribo e saltou escarranchou-se na sela como os homens. A saia dela abria-se a meio como se fossem calças quando montava. Muito engenhoso. Nunca vira semelhante coisa. Todas as mulheres que conhecia montavam sentadas de lado. Não queria perder esse espectáculo por nada.
Olhou para ela com admiração, mas não fez comentários. Essa centelha de espanto que lhe passou pelo olhar não escapou a Isabel.
Pôs o pé no estribo, saltou com agilidade para o cavalo castanho e disse-lhe:
- Pronta para uma cavalgada? – quis atormentá-la. Na realidade era noutra cavalgada que pensava. Desde que a vira nua ao luar que não pensava noutra coisa, senão em…
Ela fez uma cara de dúvida e disse:
- Não me parece. Hoje quero ir com mais suavidade. – e nem percebeu o sentido duplo que a frase continha.
Com um sorriso irónico nos lábios carnudos ele respondeu-lhe.
- Como quiser. Vamos então. Será sempre ao seu ritmo.
O duplo sentido da frase não lhe escapou. O jogo de sedução era real, não era fruto da sua imaginação.

Passo a passo, os cavalos – habituados a andarem juntos- seguiram pela estrada de terra. Isabel sentiu-se noutro mundo. O mundo que ela imaginara poder viver um dia. Nem que fosse por momentos tinha que experimentar viver a liberdade que tanto almejava e que lhe tiraram há cinco anos. Se a felicidade era algo parecido com o que estava a viver, então sentia-se feliz. A única sombra que pairava por ali era a da partida do conde, como lhe fora dito quando foi para o Solar de Santa Maria. Isabel ficaria com Teresa e Leonor viria para o continente algum tempo depois para se juntar à filha e, nessa altura o jovem conde regressaria ao Brasil para administrar a fazenda dela. "

domingo, 7 de dezembro de 2014

Publicar um livro. Onde?

Imagem retirada da internet

Quando decidi publicar os meus livros na amazon nunca pensei sequer vender um, e foi com muita alegria que vendi o primeiro, já lá vão alguns meses. Através de sites e blogs fui descobrindo as possibilidades que existem para um autor independente, e acreditem que são muitas. Com um romance escrito há algum tempo “Gabrielle” resolvi fazer a experiencia nas duas plataformas da amazon. O livro vendeu cerca de trezentos exemplares e creio que não foi mais porque o tema é um tanto denso, não é sobre sexo nem água com açúcar, os géneros que vendem muito na Kindle do Brasil. Os dois livros que publiquei a seguir foram iguais em número de vendas e têm-se aguentado nos primeiros 20 a 30 primeiros lugares o que para uma autora novata é um feito fantástico. Existem centenas de livros esquecidos nas páginas da amazon que nunca vão ter qualquer hipótese de vender, por falta de empenho dos autores em publicitá-los. Estou a preparar-me para publicar noutras plataformas tais como a Kobo, Bubok,Google Pay, mas por enquanto só vos posso falar da amazon, onde tenho os meus livros disponíveis. Neste momento retirei “Gabrielle” que vai ser reescrito e novamente publicado em dois livros distintos, uma vez que a temática do livro ( o incesto) requer um tratamento mais aprofundado.

Publicar em português é complicado em termos de mercado, pela questão da língua, mas ao fazer publicidade aos livros no Brasil, comecei a vender, especialmente ebooks. Não vou escrever sobre o processo de autopublicação, é muito simples, basta inscreverem-se no site (createspace.com para livros físicos ou kindle para ebooks) e seguir os passos. Claro que é preciso ter uma obra escrita uma nova porta abre-se para realizar o seu sonho. Há milhares de autores independentes a publicarem na amazon e muitos (os que apresentam qualidade) já vivem disso. Descrevo abaixo as vantagens de publicar nas plataformas da amazon.

 O autor sabe quantos livros vendeu no momento em que essa venda se realiza. O relatório é on-line, simples e atualizado minutos depois que acontece a venda.
2 – A Amazon já é uma montra para o autor, muito mais que os sites de editoras que publicam autores independentes e que deixam os livros esquecidos sem nunca fazerem nada pela sua promoção. O autor tem o seu público, o público que conquista nas divulgações em redes sociais e o público consumidor de livro digital próprio da Amazon. Ou seja, aumenta a sua visibilidade no mercado e há medida que vai publicando vai sendo conhecido e vendendo mais.

 Não há intermediários entre o dono da propriedade intelectual e produto em si e a loja onde esse produto será vendido. Se o autor quiser entregar um produto sem tratamento diferenciado de capa, diagramação e revisão, ele está livre para diminuir a qualidade do seu trabalho à vontade. No entanto, se o problema for com formatação, a Amazon manda e-mail pedindo para o autor melhorar nesse aspecto e só deixa concluir o processo quando não existirem erros. Posteriormente farei um post sobre o processo da publicação.
4 Preço de e-book cabe no bolso de todos e além de haver inúmeras promoções com descontos e até de livros gratuitos caso se inscreva no KD select, um programa de promoção que pode usar conforme entender, continua a ser mais acessível que o livro em papel. Para o escritor da Amazon vale mais os comentários no site do que as resenhas em blogs. Os clientes da Amazon lêem e levam em consideração tais comentários e avaliações e é para esse público que o seu livro estará exposto.

Pagamentos. Com a Amazon, o pagamento é depositado ao fim de 60 dias para os ebooks vendidos no Brasil, a partir do momento em que fizer a quantia de 100 dólares. Nas restantes lojas é pago mensalmente. Não é difícil vender 100 dólares de ebooks nesse espaço de tempo para um autor estrangeiro ao contrário do que se possa pensar.   
 Marketing. Pode contar com os seus leitores mais fiéis que fazem publicidade nas redes sociais (convém ter uma página de Facebook, tweeter, pinterest…), No entanto, a Amazon dá uma grande ajuda ao seu autor ao convidá-lo a participar da “Oferta do Dia” e ao divulgar o (s) seu (s) livro (s) nas newsletters que envia aos seus clientes. O autor não está com o seu livro num site jogado às traças.

 A Amazon oferece aplicativos de leitura gratuitos para serem usados no PC, celular e tablet. Não é preciso ter leitor de e-book. E quem tem outro e-reader (como o Kobo, por exemplo) pode sempre ler no tablet, computador etc.

 Como a publicação teoricamente é de graça (não, a Amazon não cobra nada para publicar), você tem de ter em mente que não conseguirá fazer tudo sozinho, a não ser que seja um designer profissional, um diagramador profissional e um revisor profissional, além de escritor profissional, que é a pessoa que domina as ferramentas da profissão, o que inclui a língua portuguesa. A amazon tem serviços profissionais que disponibiliza a um preço justo, mas mesmo assim é difícil para um escritor no início pagar esses preços, a não ser que tenha outra fonte de rendimento muito bem paga. Nesse caso tem que fazer tudo sozinho e ter o tripo do cuidado. Os erros passam em frente aos nossos olhos sem os conseguirmos ver e dão mau aspecto ao livro. Então o que deve fazer? Arrumar o manuscrito durante um tempo na prateleira e fazer a revisão mais tarde. Mas esse assunto fica para outro post.

Capas- na plataforma da createspace pode através da ferramenta do site, fazer uma capa com muita qualidade (inclusive inserir fotos suas), e podem acreditar que os livros ficam tão bons como nas editoras convencionais. O mesmo sucede na plataforma dos ebooks, na Kindle. Mas, como todo o autor convém ter o seu próprio modelo de capas, esse pormenor passa a possibilitar aos seus leitores reconhecê-lo onde os seus livros estiverem. No meu caso tenho a sorte de ter um designer de Mídias digitais em casa, o que me facilita a tarefa em todos os aspectos. Compro as imagens num site ( One Dollar Photo) e concebi o meu próprio modelo de capas.



quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Música das estrelas - conto


Nas rugas adivinhava-se a imensa emotividade de Maria: fora uma vida inteira a viver em pleno e a sentir. Naquela noite ao ouvir os primeiros acordes do piano e a voz cristalina da solista os olhos de Maria encheram-se de lágrimas a transbordar de contentamento e prazer. À memória chegou-lhe as longas noites de inverno acompanhadas pelos gemidos dos nocturnos de Chopin e o firmamento estrelado que vislumbrava através da janela da sala enquanto ele tocava. A sua alma poética conseguia nesses momentos escutar a música das estrelas.
 Foi nesse estado de saudade e embalo poético, que um breve instante do passado se desenhou na sua memória: nublado, distante, mas tão vivo. A idade que tinha não sabia, só sabia que aquela música estava entranhada na sua pele até ao último acorde. Ouviu-se uma enorme onda de aplausos e ela rejubilou de alegria e orgulho. O seu filho tinha alcançado a glória naquela noite. O piano, a guitarra portuguesa – que quase chorava – e a fadista que entoou “ Povo que lavas no rio”, arrancam-lhe lágrimas de alegria e saudade. Saudade da meninice em que a mãe lhe dizia «o pai toca a música das estrelas Maria, vê como elas saltitam» e apontava para os pontinhos luzentes lá no firmamento, escuro como breu, através da vidraça da janela. Era uma saudade boa, sã.

E aquela música recordava-lhe outras musicas, tão diferentes, às vezes dançadas, outras só sorvidas em milhares de sítios, quando ainda era jovem: bares, salas de cinema, viagens, ruas. A música de quando era jovem e conheceu o homem que a acompanhou a vida toda, na dor, na alegria, mas também na partilha de ideias e pensamentos. Nos livros que leram, nas batalhas que travaram, na educação doa filhos. Aquela música era a sua alma, a alma de uma menina que cresceu a ouvir o piano dedilhado pelos dedos firmes do pai, homem sensível, e um muro de protecção. Imersa nos pensamentos nem reparou que o marido estava a observá-la, ali, a dois passos dela com um ar que era de amor e complacência. Já sabia que sempre que o filho tocava aquela música, viajava para a infância, não com tristeza, mas com uma nostalgia de quem já viveu mais de metade da vida e quer aproveitar todos os momentos que lhe restam. Avançou até ele – admirou-lhe as têmporas brancas – e de mãos dadas caminharam até ao palco para abraçarem o artista da guitarra portuguesa: o filho.  

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Moço de estrebaria - conto

Pintura de José Malhoa

Arre que é bruto! – Pensava Juvenal- acerca do seu tio António que o havia chamado aos berros lá do fundo do quintal; Juvenal era distraído, passava o tempo a pensar como havia de sair dali, tamanho era o seu sofrimento. Havia dez anos que seus pais tinham partido para o além (deus os tenha em descanso), e sinceramente estava farto dos berros do tio; até a Alzira lhe dizia:
-Vai-te embora homem! Tens bom corpo, habilidade, o que esperas deste traste que te explora vai para uma década?
Destarte, Juvenal foi pensando na coisa com algum cuidado, não fosse o velho desconfiar. Um dia sumia-se no mundo e ia ser feliz. Os seus pais não o tinham criado para ser criado de lavoura do marido da tia; estava decidido! Quando o velho lhe pagasse a jorna da semana, ia meter pernas a caminho lá para os lados da vila onde muito trabalho havia, segundo ouvira dizer ao Manel da Fonte que vivia amantizado com uma moçoila daquelas bandas. Estava agastado de tanto ouvir «acarreta palha para os cavalos Juvenal», «ajuda a tua tia com a lenha Juvenal», «dá de beber às ovelhas Juvenal» e, ir à vila beber uns copos com os amigos e namoriscar as moçoilas nada. Para bruto, bruto e meio. De hoje não passava. Meteu pernas direito a casa com a intenção de meter os seus pertences num saco de pano e virar costas a tudo. Moço de estrebaria era, moço de estrebaria não haveria de ser mais tempo. Antes ir para a guerra defender a França. 

Moço de estrebaria - conto

Pintura de José Malhoa

Arre que é bruto! – Pensava Juvenal- acerca do seu tio António que o havia chamado aos berros lá do fundo do quintal; Juvenal era distraído, passava o tempo a pensar como havia de sair dali, tamanho era o seu sofrimento. Havia dez anos que seus pais tinham partido para o além (deus os tenha em descanso), e sinceramente estava farto dos berros do tio; até a Alzira lhe dizia:
-Vai-te embora homem! Tens bom corpo, habilidade, o que esperas deste traste que te explora vai para uma década?
Destarte, Juvenal foi pensando na coisa com algum cuidado, não fosse o velho desconfiar. Um dia sumia-se no mundo e ia ser feliz. Os seus pais não o tinham criado para ser criado de lavoura do marido da tia; estava decidido! Quando o velho lhe pagasse a jorna da semana, ia meter pernas a caminho lá para os lados da vila onde muito trabalho havia, segundo ouvira dizer ao Manel da Fonte que vivia amantizado com uma moçoila daquelas bandas. Estava agastado de tanto ouvir «acarreta palha para os cavalos Juvenal», «ajuda a tua tia com a lenha Juvenal», «dá de beber às ovelhas Juvenal» e, ir à vila beber uns copos com os amigos e namoriscar as moçoilas nada. Para bruto, bruto e meio. De hoje não passava. Meteu pernas direito a casa com a intenção de meter os seus pertences num saco de pano e virar costas a tudo. Moço de estrebaria era, moço de estrebaria não haveria de ser mais tempo. Antes ir para a guerra defender a França. 

domingo, 30 de novembro de 2014

Vidas errantes - conto

Era um dia igual aos outros. Outono. As folhas amarelas atapetavam o chão húmido da chuva do dia anterior e o céu apresentava laivos azul cinza numa promessa de aguaceiros. Presa à trela a cadela de raça puxava a dona ao longo do muro do jardim francês no centro da cidade. Proibida a entrada a cães. Vá-se lá saber a razão do letreiro afixado na entrada. Será que os cães vadios sabem ler?
 Uma voz feminina, de cristal, num sotaque brasileiro inconfundível soou vinda do interior do jardim:
- Vá trabalhar malandro! Isso é falta do que fazer! Você indo trabalhar isso te passa tudo.
A mulher que passeava a cadelita cinzenta de raça Schnauzer parou. A voz zangada prendeu-lhe a atenção. De trás do enorme coreto onde outrora tocaram bandas filarmónicas surgiu uma figura de mulher pequena, com ar moderno, jovem, ostentando uma longa cabeleira aos caracóis e uma pele morena que não deixava dúvidas sobre a sua origem africana. Caminhava lentamente na direcção de um bebedouro de água. Na mão uma rosa amarela. Circundando o pequeno jardim a mulher com a cadela pela trela, não conseguia tirar os olhos da frágil figura. Triste. Com o peso do mundo nos ombros. Parecia. No interior do jardim uma figura de homem acabado passava afastado uns metros. Coxeava e vociferava impropérios contra alguém. A mulher da cadela presa pela trela reconheceu-o. Um toxicodependente residente sempre na busca de moedas que algum velhote que apanhar sol ali naquele sítio interdito a cães, tenha a compaixão de lhe dar. Para comida justifica.
Mais uns passos e os olhos sempre atentos seguem a jovem que caminha em direcção às paredes de mármore do coreto. No rádio Gal Costa canta “Chuva de Prata”. A mulher encosta a rosa ao rosto, os braços ao mármore frio e chora. Chora. Toda ela encostada ao coreto com a rosa na mão e os braços a esconder o rosto.
Do outro lado do muro a mulher, parada, fica com lágrimas nos olhos. Que história de vida estará ali que carrega tanta solidão e sofrimento.  Uma história que veio do outro lado do oceano em busca de uma vida melhor. Uma vida que se cruza com outra, as duas com algum vazio por preencher.

A mulher com a cadela presa à trela afasta-se levando consigo aquele sentir triste de outra pessoa, desconhecida, mas que lhe recordaram outras vidas, vidas de emigrantes carregando saudades do país que deixaram.  

sábado, 29 de novembro de 2014

Book trailer de Jardins de Luar

                           

Excerto do livro. 

Com quem é que ele não queria cometer um pecado? Quem seria a mulher de quem ele estava a fugir? Seria dela? Não teria decerto interesse suficiente para levar um conde a fugir dela. Ou teria? E depois, porque não podia tomá-la para si, como fazia certamente com as outras? Seria assim tão detestável?
Uma névoa densa toldou-lhe o pensamento e a raiva apareceu sem que a conseguisse controlar e, pior que não se conseguir controlar era desconhecer a proveniência do descontrolo. Acaso teria pretensões a ser amada por um homem na posição dele? Um nobre jamais iria olhar para uma rapariga que imagina da plebe, ainda que seja versada na escrita e na leitura e tenha mais cultura que ele. Sim, era muito mais culta. Na realidade quase todos os nobres eram uns labregos ignorantes. Vestiam-se com roupas de veludo e emproavam as caras e os cabelos imitando os franceses, mas a ignorância era visível. Talvez ele não fosse assim, mas a raiva que tinha aos homens estava a ser canalizada para a pessoa do conde de Évora Monte.
Afastou-se do corpo dele com brusquidão deixando-o boquiaberto e a pensar no que teria feito agora. Ergueu-se ajeitando a saia de montar e, com o rosto vermelho de despeito encarou-o profundamente, estendeu o dedo indicador perigosamente na direcção de Manuel Afonso – hábito que lhe valeu muitos castigos em criança- e disse:
- Faça muito boa viagem Vossa Senhoria e oxalá não apanhe tempestades como as que causa. Passar bem. Não se incomode de algum dia voltar e…- continuava de dedo estendido.
- Não gosto nada de si, ouviu? É uma pessoa detestável.
O céu continuava escuro e a trovoada não cedia. Sair no meio de tamanha borrasca era tolice e perigoso. Com uma agilidade que as senhoras não costumam ter, desamarrou as rédeas do cavalo, colocou o pé esquerdo no estribo e saltou para a cela esporeando o animal que reagiu de imediato e largou a galope chuva adentro.
Manuel Afonso ficou sem reacção. Esperava tudo menos raiva da parte dela. Ficou a vê-la galopar à chuva em direcção ao Solar de Santa Maria com os cabelos soltos a agitarem-se ao vento. Uma imagem bela apesar de trágica. Que mulher decidida e opiniosa. Aquela, ninguém pisava. Sentiu aguçar-se o apetite de a domar. Tomá-la como sua e possui-la era o que mais desejava embora não quisesse desonrar uma virgem. Tinha a certeza que estava perante uma mulher virgem de homem e, tinha a certeza que ela queria dizer precisamente o contrário daquilo que deitou para fora. Aquela mulher gostava dele. Gostaria muito de acreditar nela, mas não podia arriscar.
 A chuva amainara em poucos minutos depois da partida de Isabel e a trovoada deu lugar a um sol de meio-dia envergonhado. Sentia fome mas não estava em condições de se sentar à mesa na frente dela sem que tivesse uma erecção daquelas que só cediam ao fim de algum tempo. Há muito tempo que não estava com uma mulher e até o cheiro o excitava. A coberto da noite, do luar, podia fantasiar as mais variadas cenas eróticas, os sinais exteriores da sua excitação não eram visíveis, mas durante o dia era recomendável afastar-se daquela tentação.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Edição tradicional vs edição independente


A edição tradicional ao mesmo tempo que é segura e tem uma base supostamente sólida é também muito restritiva. Não pode escolher a capa, vê o conteúdo da sua escrita alterado por sugestão do editor, mesmo o nome do livro pode não ser escolhido por si ( a não ser que seja um escritor consagrado ) e no final não recebe mais de 20% do valor das vendas, valor esse que você nunca controla. Essa é uma das razões apontadas para o emergir da auto- publicação nos últimos anos, mas há mais. Quando alguém escreve uma obra que quer publicar quase sempre vê as suas expectativas goradas ao enviar o manuscrito para editoras e não receber nenhuma resposta. Nem que seja a dizer que aquilo que escreve não tem interesse literário e não se aplica ao mercado. Mesmo assim não desista, se quer escrever vale sempre a pena. Mostre a amigos, inscreva-se nas plataformas de escritores e leitores, onde pode publicar o seu livro e obter feed back dos leitores.

Voltando ainda à publicação pela forma tradicional, nunca aceite publicações em que tem que pagar os livros. Há editoras que trabalham dessa forma. Aceitam a obra mas obrigam o autor a comprar os livros. Essa é uma proposta desonesta. No final você fica com os livros para vender e sem o seu dinheiro. Essa é uma forma perversa de aproveitamento do trabalho dos autores. E se lhe disserem que a editora não pode arriscar por ser um autor desconhecido, não acredite, trata-se apenas de uma forma de fazer dinheiro à sua custa. 

A publicação independente veio revolucionar o mundo dos livros. Milhares de escritores de todo o mundo publicam hoje nas plataformas online que aceitam escritores independentes e já dispensaram as editoras. Motivo: tem total controlo sobre as suas obras e ganham três vezes mais. Nos ebooks ganham entre 35% e 70% (dependendo do preço do livro) e nas publicações em papel ganha 35%, com a vantagem de poder comprar os livros em papel (que ficam muito baratos) e poder vende-los ao preço de livraria no seu blog ou site.

Nos últimos anos surgiram várias plataformas para escritores independentes. É o caso da gigante Amazon (onde autores consagrados também vendem) Kobo, Bookess, Google Play, Escrytos, são algumas das editoras que aceitam autopublicarão.
A auto publicação tem uma longa história e mesmo autores consagrados (Mark Twain, L.Ron Hubbard, Edgar Allen Poe) fizeram-no no passado antes de terem obtido o sucesso. Quanto às plataformas de publicação a amazon é quem oferece mais condições ao autor independente. Para além da possibilidade de poder publicar em papel (com óptima qualidade a preços baixos) tem também a publicação em ebooks ( KD Select – Kindle) plataforma que abriu os horizontes dos autores. Todos gostaríamos de ver os nossos trabalhos nos escaparates das livrarias, esse ainda é um sinal de credibilidade e muitas pessoas ainda pensam que autor independente não tem qualidade, mas pessoalmente creio que o meu trabalho não renderia tanto como nestas plataformas. Qual é o crivo para os autores independentes? Quem é que avalia a qualidade do seu trabalho? Os leitores. Quando um livro não tem qualidade não vende. É impossível vender um mau livro ou uma história mal engendrada. 
Caros autores, querem publicar e não sabem como? Comecem por publicar os vossos livros aqui, obtenham opiniões ( leva algum tempo, nada acontece no imediato) e depois aventurem-se na publicação. Em breve escreverei mais sobre a autopublicação.  

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Cante Alentejano a património da humanidade.

O cante alentejano está hoje a ser submetido à aprovação de património imaterial da humanidade. 


"Longe vai o tempo em que o cante acontecia a cada esquina, era o bate certo nas tabernas e a companhia das gentes ao longo de cada jornada. Fluía tão naturalmente como se respirava e era um modo de expressão dos sentimentos, tão verdadeiro, como o próprio olhar. Tanto cantavam os ranchos labutando nas herdades, como se armava o terno nas lavouras atrás do arado ou se assobiava a moda tocando um rebanho. Em conjunto, cantavam muitos, na solidão, cantava um só.
Mas a realidade sócio-cultural específica, onde nasceu e ganhou raízes a nossa tradição vocal, transformou-se, profundamente, com a mecanização da agricultura e deixou de existir, por completo, com o abandono dos campos e o gradual apagamento do ruralismo.
A partir do início da década de 70, a prática do cante reduziu-se, quase em exclusivo, às actuações dos grupos corais e praticamente, só dentro deles, tem sobrevivido o costume de se cantar à alentejana.
Com excepção destes nichos de culto pela moda, onde ainda se repetem as letras, se veneram as sonoridades e se perpetua o cancioneiro, hoje subsiste apenas uma vontade morna de se ouvir cantar, ocasionalmente e por pouco tempo, pese embora o facto de estarmos perante uma riqueza nossa em vias de ser considerada património imaterial da humanidade.
A ligação profunda do cante às agruras da vida dos camponeses, provocou, desde a sua origem, uma clivagem nítida, entre quem cantava a moda e os demais que dela mantinham (e mantêm) um determinado distanciamento de resguardo.
E foi este estigma, esta marca do ferrete social que ao longo dos anos tem desviado da prática do cante as classes mais favorecidas e aqueles que por via da sua ascensão individual cuidam de apagar, ou ao menos disfarçar, as marcas da sua génese camponesa.
Só isto justifica que ora os nossos grupos corais padeçam tanto da falta de vozes e que numa semana, numa qualquer vila do Alentejo, seja possível constituir um coro polifónico com dezenas de elementos. Trata-se, nitidamente, de uma questão de estatuto.
Infelizmente, não conseguimos ainda fazer a destrinça entre a prática da tradição coral, daquilo que foi e representava a realidade degradante dos seus protagonistas no passado.
O cante hoje deve ser tido como um produto cultural, um património de inestimável valor, pertença colectiva de um povo e de uma região e não mais uma manifestação etnográfica específica do proletariado rural.
Mas para que futuramente se abrace com alma e sem preconceitos essa nossa prática cultural, é necessária uma evolução no conceito e do significado do cante alentejano, exorcizando o pendor negativo que o assombra. É, assim, premente que nas escolas seja demonstrada às crianças a riqueza desta nossa pertença e se promova uma aproximação descomplexada e global dos alentejanos à sua expressão vocal mais autêntica.

É por isso urgente a sua assunção como um bem cultural de todos, uma marca de cariz regional e de identidade que só pode valorizar quem o canta, libertando-o quanto antes da sua ligação à fome, à penúria, à exploração e à vida inditosa do nosso povo, o que tem, ao longo dos anos, sido uma inconfessada, mas óbvia, razão para o definhamento continuado dos nossos grupos corais."

Texto de José Francisco Colaço Ribeiro publicado aqui. 

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Excerto de Jardins de Luar

(...)O vento já soprava com intensidade e as primeiras pingas caíram-lhe no rosto, frias e grossa. Chuva de trovoada era sempre forte. Avistou a frondosa árvore centenária e ficou mais descansada. Podiam abrigar-se ali. Manuel Afonso entrou debaixo da árvore antes dela e saltou para o chão, prendendo o cavalo a um galho. Isabel entrou finalmente na copa da árvore e Manuel Afonso agarrou as rédeas do “ Arisco” ajudando-a a descer. E, quando Isabel se preparava para saltar para o solo pejado de folhas secas a voarem pelo efeito do vento, ele estendeu-lhe os braços e ela nem pensou no que viria a seguir. Colocou-lhe as mãos nos ombros musculosos e duros e ele agarrou-a pela cintura, deixando-a deslizar mas sempre a roçar no seu corpo. Que tranquilidade sentiu naquele momento. Aquele homem era um porto de abrigo seguro, mas também era um mar de excitação e, quando deslizava pelo seu peito, sentiu na altura da cintura, uma protuberância erecta que identificou perfeitamente. Ele estava excitado ao ponto de não conseguir disfarçar a intumescência no meio das calças justas.
Como a desejava! Deixou-se ficar colado a ela mais do que seria necessário e numa guerra consigo próprio, largou-a finalmente dizendo:
- Vou prender o “ Arisco” ao lado do “ Trovão”. – e tirou-lhe as rédeas da mão com brusquidão, como se estivesse zangado.
 Encheu uma mão de favas - que tirou do bolso do casaco - e deu aos animais que ficaram a mastigar com ruido.
Isabel não sabia o que pensar dele. Amável, sedutor e cavalheiro num momento e uma besta no outro a seguir. Talvez fosse um homem magoado com a vida, afinal nada sabia sobre ele. Já passara dos trinta anos e ainda estava solteiro.
- Esta azinheira tem mais de trezentos anos.
 Manuel olhou para cima para avaliar a capacidade da árvore os proteger da chuva.
 – Venha, vamos para o troço da árvore. Sentamo-nos ali. – e apontou para uma raiz grossa saliente da terra que podia servir de banco.  
Retirou uma manta do alforge que tinha prendido à cela e estendeu-a no chão em cima da velha raiz.  
- Venha sente-se. – e puxou-a pela mão para perto de si. Aquele contacto com a mão dele foi a maior ousadia que cometera com um homem. Isabel era muito afoita na língua mas virgem em tudo.

Sentou-se a seu lado, consciente que era a primeira vez que estavam sós e em circunstâncias bem estranhas. Uma rabanada de vento trouxe finalmente a carga de água maior e o céu parecia despejar-se de uma só vez na terra e, agora era a valer: chuva, vento e frio.(...)
 

domingo, 23 de novembro de 2014

O cartão-de-visita de um livro – importância para os autores independentes.


 
Escolhi esta capa porque a acho lindíssima.
O título e a capa são o cartão-de-visita de uma obra literária de qualquer género e serve para o bem e para o mal. Quem passeia por entre as estantes de uma livraria detém-se num romance cujo título lhe suscita curiosidade ou causa estranheza e numa capa que lhe encha o olho. Recentemente comprei um livro apenas pelo título “ Tigres sob um céu vermelho”, ainda não o li (está na calha) mas foi a estranheza que me prendeu. Na maioria das vezes que compro livros, sigo o padrão estético, o título e a sinopse por esta ordem (quando não conheço os autores) e tento comprar tudo o que sai dos meus autores preferidos.
Tantos os escritores como as editoras prestam atenção ao título e à capa das obras. Sabem que uma boa capa e um bom título vende. Claro que se apenas tiver esses atributos, rapidamente deixa de vender e as críticas negativas aparecem. Os autores independentes têm essa tarefa a dobrar. São eles que fazem tudo, desde a revisão, edição, capa, sinopse e põem à venda nas plataformas para autores independentes ( Amazon, kobo, Bookess, Google Play, entre outras), fazendo a gestão das vendas. Depois é uma aventura, contam com a sorte dos leitores comprarem os seus livros e, caso não tenham sorte e empenho suficiente ficam no final das listas de centenas de livros esquecidos. Sinto-me privilegiada por pertencer aos primeiros da lista da Kindle na categoria de romance. Um dos meus livros lançado há dias estás nos primeiros da Amazon Brasil. Pessoalmente conto com o serviço de um profissional para as minhas capas que tem sido muito bem recebidas junto da comunidade de leitores a que pertenço.
Como é que escolhemos um título para um livro? Sugiro que elabore sempre uma lista de possíveis títulos e que os discuta com colegas ou amigos. Eu utilizo a seguinte fórmula. Faço uma breve sinopse do livro (não definitiva) e dou a várias pessoas (leitores beta) em conjunto com a lista. Depois peço aos leitores que atribuam um título que lhes faça sentido com a sinopse. Foi assim que o título “ Sonhos Adiados” surgiu. Já o livro “ Brincos de Princesa” foi uma associação entre uma flor que fazia parte do meu imaginário de criança, um programa da rádio “ Amália” de Lisboa e uma história que tinha na cabeça desde que visitei o Dubai em 2013. Se é autor independente e não pode contratar os serviços de um profissional vai ver que tem um amigo que sabe trabalhar com o Photoshop ( ou outro programa) e que com a ajuda de examinar várias capas de outros livros, lhe pode criar o seu estilo de capas. Todos os autores têm um estilo de capas, é através delas que os leitores nos identificam.  


quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Outros autores - kate Alcott

Um livro que aborda o tema da emancipação das mulheres numa época em que começavam a ter um emprego fora de casa. A autora descreve essa época de forma a que o leitor fique com uma ideia real do que era o trabalho árduo nas fábricas de fiação, onde mulheres e crianças trabalhavam mais de doze horas por dia. Simultaneamente aborda o tema da diferença de classes ao introduzir um romance entre o dono da fábrica e uma operária. Recomendo. 

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

APRESENTANDO ISABEL REBELO - JARDINS DE LUAR

(...)A rapariga era muito competente, educada, nem parecia uma plebeia, mas estava a dar-lhe cabo do juízo. Não podia envolver-se com uma serviçal, ainda que fosse culta e mestra na arte de ensinar a ler e a escrever. Lá em cima, no primeiro andar, uma luz acendeu-se e as portadas do quarto abriram-se. Escondeu-se na sombra debaixo da árvore e preparou-se para assistir ao que ele considerava o seu momento de deleite nocturno. Um espectáculo a que só ele tinha o direito de assistir como senhor da casa.
Primeiro o vestido; depois o espartilho; depois o corpete e os calções e finalmente as meias. Estava pronta para um banho de lua.
 Descobriu há vários dias, quando passeava pelo jardim pensando no que fazer da vida que a mestratinha um ritual nocturno secreto. (...)

APRESENTANDO ISABEL REBELO - JARDINS DE LUAR

(...)A rapariga era muito competente, educada, nem parecia uma plebeia, mas estava a dar-lhe cabo do juízo. Não podia envolver-se com uma serviçal, ainda que fosse culta e mestra na arte de ensinar a ler e a escrever. Lá em cima, no primeiro andar, uma luz acendeu-se e as portadas do quarto abriram-se. Escondeu-se na sombra debaixo da árvore e preparou-se para assistir ao que ele considerava o seu momento de deleite nocturno. Um espectáculo a que só ele tinha o direito de assistir como senhor da casa.
Primeiro o vestido; depois o espartilho; depois o corpete e os calções e finalmente as meias. Estava pronta para um banho de lua.
 Descobriu há vários dias, quando passeava pelo jardim pensando no que fazer da vida que a mestra tinha um ritual nocturno secreto. (...)

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Excerto de Jardins de Luar

A imagem foi retirada da internet e é meramente ilustrativa, nada tem a ver com o livro. 

(...)Entrou no quarto como um animal com o cio que é afastado à força da fêmea. Se pudesse dava gritos de desespero. O que é que aquela rapariga tinha que estava a dar-lhe cabo do juízo? Era culta, sabia manter uma conversa, um corpo que deixava qualquer homem maluco – até o cigano a cobiçara- e devia ser virgem pelo que deduziu do pedido da madre superiora. Rogou-lhe que a respeitasse porque a sorte dela com a família não tinha sido a melhor.
No Brasil conhecera algumas sinhazinhas filhas de fazendeiros, que seriam boas esposas, mas não conseguiu amar nenhuma. Queria casar com a mulher que amasse, algo que nunca confessara a ninguém. Os pais nunca se amaram e hoje, é com vergonha que assiste à vida dupla do pai que se deita com as escravas de casa quase na frente da mãe. Esse foi um dos motivos pelo qual se ofereceu para trazer Teresa para o continente. Não suportava a falta de respeito do pai pela mãe, para além do que lhe fizera há alguns anos.  
O fresco da noite esfriou-lhe a cabeça quando se sentou na varanda. Sentia vergonha do que fez há pouco, mas quando a sentia mais perto ou roçava um braço ou uma perna, ou mesmo uma mão nela, ficava atesoadoe, vê-la nua foi a gota de água. Restava-lhe olhar de longe e admirar aquela beleza simples mas cheia de vida. Isabel seria a mulher que escolhia se ela fosse da nobreza. Chegou a pensar que era alguma filha ilegítima de um nobre. A forma educada e culta com que se apresentava, enganavam qualquer um. A rapariga tinha um mistério a rodeá-la e desconfiava que a madre superiora tinha ocultado informação, quanto à sua proveniência. (...)