domingo, 28 de dezembro de 2014

Escrita criativa- personagens egoístas e arrogantes.


   Não há romance que não tenha um personagem antipático, ou muito arrogante, mas que consegue manter a atenção do leitor. Ele tem qualquer coisa que nos deixa presos e a querer saber mais. Dou como exemplo o personagem masculino da saga familiar “ Anna” e “Gabrielle” que é detestável, mas possui um conjunto de características que nos faz gostar dele. Quando estava a escrever o primeiro livro, pensei transformá-lo num homem diferente (mas isso seria alterar o rumo do romance), pela simpatia que irradiava em conjunto com toda a personalidade perversa. Não vou revelar mais, poderão ver por vocês quando os livros saírem.
Truques para manter o leitor interessado se o personagem principal é egoísta, rude, perverso…
·         O personagem ter amor a alguém (pode até ser um animal) ou alguma causa em especial. As ligações a animais funcionam muito bem para personagens antipáticos.

·         Se o personagem é estúpido, idiota, mas gosta de alguém, pode ser uma pessoa idosa, prende o leitor pela compaixão.

·         O personagem é mau, mas tem dúvidas sobre as suas acções e ao longo do livro os remorsos começam a surgir. Como leitora adoro personagens desse género.

·         O personagem tem todas essas características menos simpáticas, mas o escritor deixa em aberto o decorrer da acção e o personagem é imprevisível e subitamente começa a fazer boas acções, ou a ser mais simpático. Dou como exemplo a personagem masculina do romance “Sedução irresistível “ de Elizabeth Hoyt, que era arrogante, desfigurado pelos traumas de guerra, chegava a ser mau, mas deixava adivinhar que qualquer coisa ia mudar nele. Era impossível não gostar do Alistair. Outro exemplo, para quem se lembra de "E tudo o vento Levou", é Reth Butler, o personagem masculino, rude, grosseiro e quase detestável, mas que grangeou a simpatia do leitor e no cinema do público. 

·         O personagem é mau carácter mas está em perigo e isso entusiasma o leitor.

·         O personagem é muito mau, mas os outros são muito piores, o que faz com que o leitor simpatize com ele.



segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Plataformas de auto-publicação


A revolução digital veio para ficar, e a auto-publicação também, possibilitando a milhares de escritores pelo mundo fora realizarem o seu sonho. O fenómeno do e-publishing, ou "auto-publicação" ganha diariamente novos adeptos e existem muitos casos de sucesso que dispensam as editoras convencionais. Muitos escritores desistiram de enviar manuscritos para editoras sem obter qualquer resposta, ou em muitos casos serem convidados a comprar os próprios livros para depois ficarem entregues a si próprios na publicidade venda. Com a evolução da era digital, o filão da "ficção digital", até então refúgio de escritores iniciantes e amadores que escrevem exclusivamente para a internet, começa a atrair autores consagrados e com uma longa história de publicação em editoras convencionais. A globalização, ao nível da publicação digital, tem possibilitado que escritores iniciantes vendam os seus livros ao lado de autores que já venderam milhões de livros, como Nicolas Sparks, Lesley Pearse, Ken Follet entre muitos outros.
Nos EUA, a escritora amadora Amanda Hocking, de 27 anos, chegou à marca de 1,5 milhão de e-books vendidos no site da Amazon. o que levou Amanda a vender os seus livros na internet foi a rejeição das editoras convencionais. Há dois anos sem dinheiro, e decepcionada com as respostas negativas aos seus livros de monstros e vampiros, Amanda pegou numa das suas obras e a colocou à venda na Amazon, chegando à marca de 150 mil exemplares em apenas seis semanas.
Há sempre vozes dissonantes em relação à publicação em formato digital, no entanto creio que esse processo ainda não enfraqueceu as vendas em papel. As editoras que possibilitam ao autor independente, publicar em ebook , também publicam em papel, sob demanda, ou seja, o livro só é impresso quando a encomenda é feita. Quer isso dizer que quem gosta de sentir um livro em papel – eu ainda não dispenso o livro em papel, embora venda mais ebooks – pode escolher entre os dois formatos.
Outros problemas têm-se colocado ainda em relação aos autores independentes, relacionados com as críticas sob a qualidade do autor independente, por não existir um crivo (revisor, editor… ) que aprecie esse trabalho. Quanto a isso podem ficar descansados pois o que não presta não vende e tem críticas negativas. O autor independente vive muito da apreciação que os leitores deixam nos sites de venda, e podem acreditar que são extremamente verdadeiros sob o que leram, não hesitando em deixar críticas negativas se não gostarem, afinal o leitor pagou pelo livro; o que não acontece com os autores convencionais, pois a não ser que algum crítico literário faça uma apreciação, ninguém sabe o que pensam daquela obra em particular, senão ao fim de algum tempo. 
Em meio aos prós e contras desse negócio, não se pode negar a mudança nos hábitos de leitura e escrita que ele representa. O florescimento das publicações on-line pode ser um caminho possível diante das restrições de mercado e da recusa em as editoras apostarem em novos autores. Se tem um livro escrito e acha que tem qualidade para publicar, as hipóteses são imensas, e basta fazer uma pesquisa na internet que descobre várias plataformas onde pode publicar de graça. Pode publicar na amazon (com várias lojas pelo mundo) e pode inscrever-se de forma gratuita na Createspace.com, em inglês mas com a ajuda do Google tradutor é fácil de usar, e tem uma possibilidade muito interessante de publicar em papel, ou na Kindle (também da amazon) também muito fácil de usar. Se publicar na Createspace quando colocar o seu livro em papel, o sistema converte-o automaticamente para ebook com vista a publicar na Kindle. A minha experiencia com a amazon tem sido muito positiva.
Existe ainda a Kobo.com, a Google Play, a Bubok em Portugal (vou iniciar a minha publicação nesta plataforma portuguesa) a Lulu.com, e muitas outras grátis. Claro que todas elas têm serviços editoriais que o escritor usa se quiser. Se souber ou tiver quem lhe faça as capas, sempre o mais complicado (pessoalmente criei um estilo de capa com a ajuda de um designer) não precisa contratar os serviços das plataformas. Noutro post iremos falar sobre o processo de publicação detalhadamente.


sábado, 20 de dezembro de 2014

Estruturar o livro

Imagem retirada da internet

Nem todos os escritores têm necessidade de estruturar o livro servindo-se de um Plot (esquema dos acontecimentos do livro, linha orientadora) e planeando os capítulos passo a passo. Há quem inicie a escrita seguindo apenas a ideia que desenvolveu e, ao longo do livro vá deixando fluir as ideias para no final chegar onde pretende. Outros planeiam cuidadosamente capítulo a capítulo. Não há uma forma certa. Cada escritor faz da forma que se sente mais confortável. Já usei as duas formas e achei a primeira muito difícil de seguir. Se estivesse sem escrever um dia tinha que voltar a rever tudo de novo, perdia-me facilmente. Actualmente é impensável não planear o livro com cuidado, com Plot, capítulos e dois finais possíveis.  
O que é um Plot?
Plot é um conjunto de acções interligadas e que dizem respeito a um personagem que tem um conflito (interno ou externo) e que precisa atingir um objectivo para o resolver. Esse conflito pode ser simples ou mais difícil e que necessite da acção de vários personagens que ao longo do livro entram e interacção com a personagem principal. Quanto mais difícil for resolver o conflito mais interessante se torna a obra.   

Em primeiro lugar começo por definir a ideia subjacente ao livro. Depois as personagens e os cenários onde decorrem (faço uma biografia para cada personagem, mesmo que sejam secundários) e no início do livro apresento-os um a um sem revelar muito. Com cerca de um terço do livro escrito (20.000 palavras) há um ponto de viragem em que o conflito fica no auge. Dependendo da história, até esse ponto a história cresce e apresenta os diversos problemas e, quando atinge o climax, inicia um decrescendo em que a trama principal do livro começa a resolver-se até ao final. Mas, outras situações podem acontecer e, nomeadamente existirem diversos pontos de viragem ao longo da história, o que torna a trama mais interessante. Voltando à estruturação do livro, depois do plot definido (uso uma folha A3 onde faço o esquema com personagens e cenários) e essa folha fica pregada num placard em frente à minha mesa de trabalho. Depois escrevo a biografia dos personagens. Nada muito exaustivo, mas que contenha características físicas e psicológicas que ao longo do livro sejam possíveis de mudar à medida que o personagem cresce. Depois, com a orientação do plot esquematizo os capítulos com as diversas cenas a escrever. Quanto aos cenários também faço uma pesquisa muito exaustiva. No livro “Brincos de Princesa” não foi necessário, conheço bem todos os cenários onde a acção decorreu, e o mesmo se passou com “Sonhos Adiados”. Convém descrever os cenários com veracidade e, se não conhecer pesquise bastante, a internet é uma boa fonte de recolha de informação, pode usar a Google Earth para pesquisar os cenários físicos. Finalizado este trabalho que também leva algum tempo inicio a escrita dos capítulos e sigo o esquema dos capítulos e das cenas, podendo deixar de escrever a qualquer momento, e retomar sem me enganar na informação. Bom trabalho.  

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

E. Lockhart- Quando éramos mentirosos

Confesso que o que me motivou a pegar neste livro foi o título, que achei deveras curioso. Foi uma leitura que não foi fácil ao início. Mas como sou persistente continuei, e ao fim de algumas páginas fiquei completamente embrenhada com esta família abastada (que tem uma ilha privada) mas com segredos e contornos relacionais estranhos. Um avô preocupado com as heranças, um pai manipulador e as mulheres adultas da família vivendo uma rivalidade entre elas. O que inicialmente parecia um conto juvenil transformou-se numa narrativa adulta e com sofrimento. O facto de a narradora ter sofrido uma pancada na cabeça deixa-nos na dúvida sobre a veracidade dos acontecimentos, mas no final a surpresa é total, não esperava. Talvez por defeito de profissão (mas não só), sou apaixonada por histórias de vida, e este livro fala de encontros, desencontros e mudanças, de objectos e objectivos, no fundo, aquilo que traduz a passagem de todos nós pela adolescência.

 Um livro diferente, pleno de mistério, mas que teve a capacidade de me transportar para dentro do enredo. Não conhecia a autora, mas vou ficar atenta a outras publicações. Vale a pena ler pela singularidade da escrita e do enredo. Recomendo. 

E. Lockhart é o pseudónimo de Emily Jenkins. A autora é doutorada em literatura inglesa pela Universidade de Colúmbia e ensina escrita criativa. É autora de várias obras. 

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Lesley Pearse - És o Meu Destino

O primeiro romance que li da autora foi " Segue o coração..." e fiquei fã da escritora. Li todos os livros que foram publicados em Portugal até agora. Hoje venho falar-vos de " És o Meu Destino" o terceiro livro da história de Belle. A autora apresenta-nos Mari ( a terceira geração, filha de Belle e Étienne cuja vida vai mudar drasticamente quando chega a Inglaterra. Num cenário de guerra a personagem é posta à prova e enfrenta as piores coisas que uma guerra pode trazer: perdas de pessoas e destruição. Mari encontra o amor na viagem da Nova Zelândia para Londres, mas também o perde logo de seguida, e só no final do livro ficamos a saber qual o destino dos personagens. 
A autora tem uma linguagem escrita, fluída, com palavras simples e uma capacidade de perscrutar o interior do seu humano e por isso em palavras que nos deixa presos aos seus livros do principio ao fim. Não é por acaso que é uma das autoras que mais vende nos países onde a sua obra está traduzida. Os romances da autora não são historias de água com açúcar, são histórias de vida que nos trazem sempre grandes dramas da vida humana. Este romance fala-nos de lealdade, amor, coragem e solidariedade e sobretudo de capacidade de resiliência ( superar obstáculos), tudo isto presente nas personagens do livro. Aconselho vivamente a ler a autora. É uma fonte de inspiração para mim desde que leio os livros dela.


Uma das escritoras preferidas do público português, Lesley Pearse é autora de uma vasta obra já traduzida para mais de trinta línguas, tendo vendido cerca de três milhões de exemplares. A própria vida da escritora é uma grande fonte de material para os seus romances, quer esteja a escrever sobre a dor do primeiro amor, crianças indesejadas e maltratadas, adopção, rejeição, pobreza ou vingança, uma vez que conheceu tudo isto em primeira mão. Ela é uma lutadora, e a estabilidade e sucesso que atingiu na sua vida deve-os à escrita. Com o apoio da editora Penguin, criou o Women of Courage Award para distinguir mulheres comuns dotadas de uma coragem extraordinária. Para além de Segue o Coração. Nunca Olhes para Trás, na ASA estão já publicados com grande sucesso os seus romancesNunca Me Esqueças e Procuro-te.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Jardins de Luar - livro em papel.

Excerto do livro
"Isabel fez uma ligeira vénia com a cabeça e permaneceu sentada enquanto ele saia da sala de refeições. Devia ter perto de um metro e oitenta – algo raro nos homens alentejanos- e, o porte atlético de cavaleiro experiente. As calças castanhas justas às pernas, enfiadas nas botas de montar e a casaca verde-escuro com botões dourados, realçavam-lhe a cor dos olhos. Não sendo propriamente um homem bonito era muito másculo. Mas, o que mais surpreendia Isabel era a forma como este homem detentor de um título de nobreza tratava os seus serviçais. Todos os criados gostavam dele, embora todos dissessem que não o queriam ver enfurecido, não queriam ver o lado mau dele. Já tinha percebido que deviam confundi-lo com o velho conde seu pai, esse sim, um ser humano irrascível, segundo a cozinheira lhe contara.  
Há muito tempo que não montava. Quando vivia na casa do pai tinha uma égua só para si. Que saudades de sentir o vento na cara e no cabelo quando galopava pela planície! Subiu as escadas e procurou no velho baú a roupa de montar. O desconhecimento acerca do convento era tal que imaginou que lá, pudesse continuar a fazer as actividades habituais, por isso colocara no baú, quase toda a roupa que possuía.
Vestiu-a rapidamente e encaminhou-se para a estrebaria. Era nestas alturas que se sentia livre. Esta roupa era bem mais confortável que as anquinhas e os espartilhos e depois não havia nada que lhe agradasse mais que estar montada numa cela.
Com cautela entrou no edifício escuro a cheirar a cavalo e, Inácio, um dos moços da estrebaria apareceu na porta quando ouviu o som das botas na pedra do chão. Tirou o chapéu em sinal de respeito e disse:
- Menina Isabel em que posso servi-la? –os seus olhos riam-se sempre que a via.
Inácio tinha sonhos molhados com Isabel desde que ela fora viver para o Solar de Santa Maria.
- Há algum cavalo que eu possa montar? Não o faço há muito anos e gostava de experimentar de novo. –confessou.
- Oh diacho menina! Os cavalos do conde são todos ariscos.- disse para lhe meter medo e fazer-se de valente.
 – Olhe que eu sou um bom cavaleiro e já me atiraram ao chão algumas vezes. – vangloriou-se.
- Que tal o “Arisco”? – disse uma voz grave e ligeiramente rouca atrás de si.
Manuel Afonso dera pela presença dela assim que entrou dentro da cavalariça. Cada vez estava mais intrigado. Quem era esta rapariga? A madre superiora não lhe contou toda a história dela quase de certeza. Por educação não queria perguntar, mas algo lhe dizia que havia um segredo em torno dela.
Inácio fez uma vénia com o chapéu de pele curtida e ficou mudo.
- Estava eu a dizer que lhe podes preparar o Arisco. Parece que a menina Isabel me vai acompanhar hoje.
Ficou perplexa e sem saber que dizer. Não queria ir com ele. Queria ir sozinha e andar livremente pelo campo.
- Perdão…não era minha intenção…só queria experimentar… se ainda sei montar. – disse aos solavancos e muito corada. – Não quero incomodar vossa senhoria.   
- Nada melhor que a minha companhia para testar as suas habilidades. No caso de falha estarei lá para a apanhar.
Quanto mais sério dizia as coisas, mais interessante ficava. Tudo nele transpirava homem - roupa, cheiro, gestos, e sobretudo a voz muito máscula. Conhecia-lhe a voz à distância. Era inconfundível.  
Tinha a resposta na ponta da língua mas refreou-se. Não era adequado responder-lhe na presença de outras pessoas. Não queria ofendê-lo, mas o conde estava a começar a jogar um jogo perigoso para uma mulher virgem e sem experiência. Estava a adorar o pagode, mas sentia que a qualquer momento podia perder a sua inocência. Ou estaria enganada e o homem era apenas mordaz?  
Inácio apareceu com os dois cavalos arreados pela mão e entregou-os nas mãos do conde, pelas rédeas. Manuel Afonso puxou um dos cavalos para perto dela- o branco com um porte majestoso – e ajudou-a a subir para a sela. Para seu espanto Isabel pôs o pé no estribo e saltou escarranchou-se na sela como os homens. A saia dela abria-se a meio como se fossem calças quando montava. Muito engenhoso. Nunca vira semelhante coisa. Todas as mulheres que conhecia montavam sentadas de lado. Não queria perder esse espectáculo por nada.
Olhou para ela com admiração, mas não fez comentários. Essa centelha de espanto que lhe passou pelo olhar não escapou a Isabel.
Pôs o pé no estribo, saltou com agilidade para o cavalo castanho e disse-lhe:
- Pronta para uma cavalgada? – quis atormentá-la. Na realidade era noutra cavalgada que pensava. Desde que a vira nua ao luar que não pensava noutra coisa, senão em…
Ela fez uma cara de dúvida e disse:
- Não me parece. Hoje quero ir com mais suavidade. – e nem percebeu o sentido duplo que a frase continha.
Com um sorriso irónico nos lábios carnudos ele respondeu-lhe.
- Como quiser. Vamos então. Será sempre ao seu ritmo.
O duplo sentido da frase não lhe escapou. O jogo de sedução era real, não era fruto da sua imaginação.

Passo a passo, os cavalos – habituados a andarem juntos- seguiram pela estrada de terra. Isabel sentiu-se noutro mundo. O mundo que ela imaginara poder viver um dia. Nem que fosse por momentos tinha que experimentar viver a liberdade que tanto almejava e que lhe tiraram há cinco anos. Se a felicidade era algo parecido com o que estava a viver, então sentia-se feliz. A única sombra que pairava por ali era a da partida do conde, como lhe fora dito quando foi para o Solar de Santa Maria. Isabel ficaria com Teresa e Leonor viria para o continente algum tempo depois para se juntar à filha e, nessa altura o jovem conde regressaria ao Brasil para administrar a fazenda dela. "

domingo, 7 de dezembro de 2014

Publicar um livro. Onde?

Imagem retirada da internet

Quando decidi publicar os meus livros na amazon nunca pensei sequer vender um, e foi com muita alegria que vendi o primeiro, já lá vão alguns meses. Através de sites e blogs fui descobrindo as possibilidades que existem para um autor independente, e acreditem que são muitas. Com um romance escrito há algum tempo “Gabrielle” resolvi fazer a experiencia nas duas plataformas da amazon. O livro vendeu cerca de trezentos exemplares e creio que não foi mais porque o tema é um tanto denso, não é sobre sexo nem água com açúcar, os géneros que vendem muito na Kindle do Brasil. Os dois livros que publiquei a seguir foram iguais em número de vendas e têm-se aguentado nos primeiros 20 a 30 primeiros lugares o que para uma autora novata é um feito fantástico. Existem centenas de livros esquecidos nas páginas da amazon que nunca vão ter qualquer hipótese de vender, por falta de empenho dos autores em publicitá-los. Estou a preparar-me para publicar noutras plataformas tais como a Kobo, Bubok,Google Pay, mas por enquanto só vos posso falar da amazon, onde tenho os meus livros disponíveis. Neste momento retirei “Gabrielle” que vai ser reescrito e novamente publicado em dois livros distintos, uma vez que a temática do livro ( o incesto) requer um tratamento mais aprofundado.

Publicar em português é complicado em termos de mercado, pela questão da língua, mas ao fazer publicidade aos livros no Brasil, comecei a vender, especialmente ebooks. Não vou escrever sobre o processo de autopublicação, é muito simples, basta inscreverem-se no site (createspace.com para livros físicos ou kindle para ebooks) e seguir os passos. Claro que é preciso ter uma obra escrita uma nova porta abre-se para realizar o seu sonho. Há milhares de autores independentes a publicarem na amazon e muitos (os que apresentam qualidade) já vivem disso. Descrevo abaixo as vantagens de publicar nas plataformas da amazon.

 O autor sabe quantos livros vendeu no momento em que essa venda se realiza. O relatório é on-line, simples e atualizado minutos depois que acontece a venda.
2 – A Amazon já é uma montra para o autor, muito mais que os sites de editoras que publicam autores independentes e que deixam os livros esquecidos sem nunca fazerem nada pela sua promoção. O autor tem o seu público, o público que conquista nas divulgações em redes sociais e o público consumidor de livro digital próprio da Amazon. Ou seja, aumenta a sua visibilidade no mercado e há medida que vai publicando vai sendo conhecido e vendendo mais.

 Não há intermediários entre o dono da propriedade intelectual e produto em si e a loja onde esse produto será vendido. Se o autor quiser entregar um produto sem tratamento diferenciado de capa, diagramação e revisão, ele está livre para diminuir a qualidade do seu trabalho à vontade. No entanto, se o problema for com formatação, a Amazon manda e-mail pedindo para o autor melhorar nesse aspecto e só deixa concluir o processo quando não existirem erros. Posteriormente farei um post sobre o processo da publicação.
4 Preço de e-book cabe no bolso de todos e além de haver inúmeras promoções com descontos e até de livros gratuitos caso se inscreva no KD select, um programa de promoção que pode usar conforme entender, continua a ser mais acessível que o livro em papel. Para o escritor da Amazon vale mais os comentários no site do que as resenhas em blogs. Os clientes da Amazon lêem e levam em consideração tais comentários e avaliações e é para esse público que o seu livro estará exposto.

Pagamentos. Com a Amazon, o pagamento é depositado ao fim de 60 dias para os ebooks vendidos no Brasil, a partir do momento em que fizer a quantia de 100 dólares. Nas restantes lojas é pago mensalmente. Não é difícil vender 100 dólares de ebooks nesse espaço de tempo para um autor estrangeiro ao contrário do que se possa pensar.   
 Marketing. Pode contar com os seus leitores mais fiéis que fazem publicidade nas redes sociais (convém ter uma página de Facebook, tweeter, pinterest…), No entanto, a Amazon dá uma grande ajuda ao seu autor ao convidá-lo a participar da “Oferta do Dia” e ao divulgar o (s) seu (s) livro (s) nas newsletters que envia aos seus clientes. O autor não está com o seu livro num site jogado às traças.

 A Amazon oferece aplicativos de leitura gratuitos para serem usados no PC, celular e tablet. Não é preciso ter leitor de e-book. E quem tem outro e-reader (como o Kobo, por exemplo) pode sempre ler no tablet, computador etc.

 Como a publicação teoricamente é de graça (não, a Amazon não cobra nada para publicar), você tem de ter em mente que não conseguirá fazer tudo sozinho, a não ser que seja um designer profissional, um diagramador profissional e um revisor profissional, além de escritor profissional, que é a pessoa que domina as ferramentas da profissão, o que inclui a língua portuguesa. A amazon tem serviços profissionais que disponibiliza a um preço justo, mas mesmo assim é difícil para um escritor no início pagar esses preços, a não ser que tenha outra fonte de rendimento muito bem paga. Nesse caso tem que fazer tudo sozinho e ter o tripo do cuidado. Os erros passam em frente aos nossos olhos sem os conseguirmos ver e dão mau aspecto ao livro. Então o que deve fazer? Arrumar o manuscrito durante um tempo na prateleira e fazer a revisão mais tarde. Mas esse assunto fica para outro post.

Capas- na plataforma da createspace pode através da ferramenta do site, fazer uma capa com muita qualidade (inclusive inserir fotos suas), e podem acreditar que os livros ficam tão bons como nas editoras convencionais. O mesmo sucede na plataforma dos ebooks, na Kindle. Mas, como todo o autor convém ter o seu próprio modelo de capas, esse pormenor passa a possibilitar aos seus leitores reconhecê-lo onde os seus livros estiverem. No meu caso tenho a sorte de ter um designer de Mídias digitais em casa, o que me facilita a tarefa em todos os aspectos. Compro as imagens num site ( One Dollar Photo) e concebi o meu próprio modelo de capas.



quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Música das estrelas - conto


Nas rugas adivinhava-se a imensa emotividade de Maria: fora uma vida inteira a viver em pleno e a sentir. Naquela noite ao ouvir os primeiros acordes do piano e a voz cristalina da solista os olhos de Maria encheram-se de lágrimas a transbordar de contentamento e prazer. À memória chegou-lhe as longas noites de inverno acompanhadas pelos gemidos dos nocturnos de Chopin e o firmamento estrelado que vislumbrava através da janela da sala enquanto ele tocava. A sua alma poética conseguia nesses momentos escutar a música das estrelas.
 Foi nesse estado de saudade e embalo poético, que um breve instante do passado se desenhou na sua memória: nublado, distante, mas tão vivo. A idade que tinha não sabia, só sabia que aquela música estava entranhada na sua pele até ao último acorde. Ouviu-se uma enorme onda de aplausos e ela rejubilou de alegria e orgulho. O seu filho tinha alcançado a glória naquela noite. O piano, a guitarra portuguesa – que quase chorava – e a fadista que entoou “ Povo que lavas no rio”, arrancam-lhe lágrimas de alegria e saudade. Saudade da meninice em que a mãe lhe dizia «o pai toca a música das estrelas Maria, vê como elas saltitam» e apontava para os pontinhos luzentes lá no firmamento, escuro como breu, através da vidraça da janela. Era uma saudade boa, sã.

E aquela música recordava-lhe outras musicas, tão diferentes, às vezes dançadas, outras só sorvidas em milhares de sítios, quando ainda era jovem: bares, salas de cinema, viagens, ruas. A música de quando era jovem e conheceu o homem que a acompanhou a vida toda, na dor, na alegria, mas também na partilha de ideias e pensamentos. Nos livros que leram, nas batalhas que travaram, na educação doa filhos. Aquela música era a sua alma, a alma de uma menina que cresceu a ouvir o piano dedilhado pelos dedos firmes do pai, homem sensível, e um muro de protecção. Imersa nos pensamentos nem reparou que o marido estava a observá-la, ali, a dois passos dela com um ar que era de amor e complacência. Já sabia que sempre que o filho tocava aquela música, viajava para a infância, não com tristeza, mas com uma nostalgia de quem já viveu mais de metade da vida e quer aproveitar todos os momentos que lhe restam. Avançou até ele – admirou-lhe as têmporas brancas – e de mãos dadas caminharam até ao palco para abraçarem o artista da guitarra portuguesa: o filho.  

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Moço de estrebaria - conto

Pintura de José Malhoa

Arre que é bruto! – Pensava Juvenal- acerca do seu tio António que o havia chamado aos berros lá do fundo do quintal; Juvenal era distraído, passava o tempo a pensar como havia de sair dali, tamanho era o seu sofrimento. Havia dez anos que seus pais tinham partido para o além (deus os tenha em descanso), e sinceramente estava farto dos berros do tio; até a Alzira lhe dizia:
-Vai-te embora homem! Tens bom corpo, habilidade, o que esperas deste traste que te explora vai para uma década?
Destarte, Juvenal foi pensando na coisa com algum cuidado, não fosse o velho desconfiar. Um dia sumia-se no mundo e ia ser feliz. Os seus pais não o tinham criado para ser criado de lavoura do marido da tia; estava decidido! Quando o velho lhe pagasse a jorna da semana, ia meter pernas a caminho lá para os lados da vila onde muito trabalho havia, segundo ouvira dizer ao Manel da Fonte que vivia amantizado com uma moçoila daquelas bandas. Estava agastado de tanto ouvir «acarreta palha para os cavalos Juvenal», «ajuda a tua tia com a lenha Juvenal», «dá de beber às ovelhas Juvenal» e, ir à vila beber uns copos com os amigos e namoriscar as moçoilas nada. Para bruto, bruto e meio. De hoje não passava. Meteu pernas direito a casa com a intenção de meter os seus pertences num saco de pano e virar costas a tudo. Moço de estrebaria era, moço de estrebaria não haveria de ser mais tempo. Antes ir para a guerra defender a França. 

Moço de estrebaria - conto

Pintura de José Malhoa

Arre que é bruto! – Pensava Juvenal- acerca do seu tio António que o havia chamado aos berros lá do fundo do quintal; Juvenal era distraído, passava o tempo a pensar como havia de sair dali, tamanho era o seu sofrimento. Havia dez anos que seus pais tinham partido para o além (deus os tenha em descanso), e sinceramente estava farto dos berros do tio; até a Alzira lhe dizia:
-Vai-te embora homem! Tens bom corpo, habilidade, o que esperas deste traste que te explora vai para uma década?
Destarte, Juvenal foi pensando na coisa com algum cuidado, não fosse o velho desconfiar. Um dia sumia-se no mundo e ia ser feliz. Os seus pais não o tinham criado para ser criado de lavoura do marido da tia; estava decidido! Quando o velho lhe pagasse a jorna da semana, ia meter pernas a caminho lá para os lados da vila onde muito trabalho havia, segundo ouvira dizer ao Manel da Fonte que vivia amantizado com uma moçoila daquelas bandas. Estava agastado de tanto ouvir «acarreta palha para os cavalos Juvenal», «ajuda a tua tia com a lenha Juvenal», «dá de beber às ovelhas Juvenal» e, ir à vila beber uns copos com os amigos e namoriscar as moçoilas nada. Para bruto, bruto e meio. De hoje não passava. Meteu pernas direito a casa com a intenção de meter os seus pertences num saco de pano e virar costas a tudo. Moço de estrebaria era, moço de estrebaria não haveria de ser mais tempo. Antes ir para a guerra defender a França.