segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Ser feliz com livros - Como criar um leitor


Cresci entre livros e, não há melhor forma de estar  do que rodeada deles.
 Quer isso dizer que fui estimulada a ler?
Sim, mas não só.
 A curiosidade natural e inata levou-me a descobrir o prazer da leitura desde que "meti" a mão num punhado de livros de banda desenhada de Walt Disney, lá muito atrás, nos anos sessenta, quando devia ter uns seis anos.  Eu digo "meti" a mão, não porque os tivesse roubado, mas porque os achei empilhados junto ao lixo, mesmo a pedirem para os levar para casa.
E levei.
Devorei as imagens durante uns bons dias, tentando adivinhar a história e, a minha mãe, que infelizmente não foi à escola muito tempo, mas ficou a conhecer as letras e os números, começou a ensinar-me o alfabeto. Porém, a senhora minha mãe,  também tinha a paciência de ver as imagens comigo e contava-me a história à maneira dela, sem saber o que lá estava escrito.
Grande mulher a minha mãe! Cresceu numa época em que as crianças trabalhavam para ajudar a família e em que poucas pessoas sabiam ler. A literacia era um luxo inacessível às classes pobres, à qual pertencia.
Guardei esses livros durante anos até que um dia, já no final da primeira classe, os fui buscar e descobri que conseguia lê-los. Começou aí a minha aventura como leitora - mais ou menos por volta de 1970 - até aos dias que correm.
Como mãe consegui que a minha filha e o meu filho gostassem de livros, embora com ele tivesse sido mais complicado, porque já nasceu na época do digital. E agora tenho a missão de "contagiar" a neta de dois anos. Esta vida não é fácil!

Vamos agora a outra perspectiva um pouco mais pedagógica.
Para os pais que gostam de livros e de ler - sim, porque podem gostar de livros para enfeitar as prateleiras e não os ler -, a melhor forma que tem de contagiar as crianças, como se de uma doença se tratasse, é ler-lhe histórias.
 Ler uma história a uma criança, aguça-lhe a curiosidade pelo que existe dentro do livro e, um dia, quando souber ler, vai descobrir por si mesma como viajar por uma história, ou por um tema qualquer que tenha interesse. Os livros contribuem para o desenvolvimento das crianças e são um aliado muito saudável na vida adulta.

Como não se nasce leitor é necessário acompanhar a criança nesse percurso, embora, nesta época seja difícil combater o apelo dos ecrãs. No entanto convém contrariar essa tendência. Troque o tablet por um livro, que um dia o seu filho agradece-lhe.
No genoma humano não existe uma inclinação natural para os livros, mas existe o gene da leitura, e como tal podemos sempre incentivar, dando o exemplo e lendo histórias às crianças desde que elas estejam capaz de nos dar atenção uns poucos minutos, mesmo que de seguida, puxem as páginas do livro, ou puxem por outro para ver o que lá está dentro, parecendo não se interessarem. Os pais tem obrigação de cuidar da curiosidade dos filhos e, a leitura faz parte disso.
 Ler acende a imaginação e quanto mais se lê, mais criativa a pessoa se torna, é por isso que se diz que não existe um bom escritor que não tinha sido um bom leitor.
A leitura pode ficar associada à voz dos pais, a um momento positivo de proximidade, ao afeto, ao colo e ao AMOR. Pode tornar-se um amor para a vida.
Ler não tem que ser uma obrigação ou um castigo, mas pode servir como contrapartida quando uma criança está muito ligada ao digital e não lê por iniciativa própria. Negociar a leitura de um livro que a criança goste para poder jogar computador uma a duas horas por dia, não é de todo uma aberração.
 Quem não lê tem sérios problemas em interpretar o mundo, uma vez que não entende o significado das palavras.
A aventura de ler não tem que começar com os Maias, ou com Os Miseráveis, pode começar com qualquer livro que a criança se interesse. Não adianta impingir os nossos gostos às crianças se elas tem preferência por outros géneros. Se ele quer ler o Maze Runner, deixe-o ler. O gosto pela leitura e o seu aprofundamento vai sendo construído aos poucos. O que precisamos é de gente que adore ler, são essas pessoas que aos poucos vão contagiando os outros com o seu entusiasmo, quer através da palavra, quer através das redes sociais.
Não se ofenda se o seu filho não quer ler o Princepezinho, só porque você o leu aos doze anos e ele mudou a sua vida. Não é nada pessoal. Mostre-lhe uma variedade de livros e de-lhe a escolher. Leve-o a uma livraria de preferência.
O importante é que as crianças comecem a virar páginas, o resto vai acontecendo naturalmente como em todas as histórias.
Boas leituras e até ao próximo post.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Música das Estrelas - Conto


Nas rugas adivinhava-se a imensa emotividade de Maria: fora uma vida inteira a viver em pleno e a sentir. Naquela noite ao ouvir os primeiros acordes do piano e a voz cristalina da solista os olhos de Maria encheram-se de lágrimas a transbordar de contentamento e prazer. À memória chegou-lhe as longas noites de inverno acompanhadas pelos gemidos dos nocturnos de Chopin e o firmamento estrelado que vislumbrava através da janela da sala enquanto ele tocava. A sua alma poética conseguia nesses momentos escutar a música das estrelas.
 Foi nesse estado de saudade e embalo poético, que um breve instante do passado se desenhou na sua memória: nublado, distante, mas tão vivo. A idade que tinha não sabia, só sabia que aquela música estava entranhada na sua pele até ao último acorde. Ouviu-se uma enorme onda de aplausos e ela rejubilou de alegria e orgulho. O seu filho tinha alcançado a glória naquela noite. O piano, a guitarra portuguesa – que quase chorava – e a fadista que entoou “ Povo que lavas no rio”, arrancam-lhe lágrimas de alegria e saudade. Saudade da meninice em que a mãe lhe dizia «o pai toca a música das estrelas Maria, vê como elas saltitam» e apontava para os pontinhos luzentes lá no firmamento, escuro como breu, através da vidraça da janela. Era uma saudade boa, sã.

E aquela música recordava-lhe outras músicas, tão diferentes, às vezes dançadas, outras só sorvidas em milhares de sítios, quando ainda era jovem: bares, salas de cinema, viagens, ruas. A música de quando era jovem e conheceu o homem que a acompanhou a vida toda, na dor, na alegria, mas também na partilha de ideias e pensamentos. Nos livros que leram, nas batalhas que travaram, na educação doa filhos. Aquela música era a sua alma, a alma de uma menina que cresceu a ouvir o piano dedilhado pelos dedos firmes do pai, homem sensível, e um muro de protecção. Imersa nos pensamentos nem reparou que o marido estava a observá-la, ali, a dois passos dela com um ar que era de amor e complacência. Já sabia que sempre que o neto tocava aquela música, viajava para a infância, não com tristeza, mas com uma nostalgia de quem já viveu mais de metade da vida e quer aproveitar todos os momentos que lhe restam. Avançou até ao marido, apoiada na bengala – admirou-lhe as têmporas brancas – e, de mãos dadas, caminharam até ao palco para abraçarem o artista da guitarra portuguesa: o neto. 

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Vale a pena ser escritor independente?





Tornar-se autor/escritor é uma jornada única e individual. Mas, tornar-se autor independente, é algo que requer muito, mas muito, trabalho. Como escritor, se quiser ver o seu trabalho publicado, tem duas alternativas: de um lado a publicação tradicional, pelas editoras convencionais e,  de outro, publicar de forma independente, quer em editoras que fazem edições de autor ( como a Chiado), ou em plataformas como a AMAZON, a maior livraria do mundo. 

Ainda se acredita que a publicação tradicional tenha mais credibilidade e impacto no publico do que a auto-publicação, mas, existem muitas razões pelas quais os autores optam, cada vez mais, pela última. O autor autopublicado tem mais autonomia, mais liberdade, maior rapidez, maiores ganhos ( royalties), mas também maior responsabilidade, sobretudo à medida que vai "crescendo" como escritor. 
Na auto - publicação nem tudo são facilidades, grande parte do sucesso é muito trabalho. 

A jornada do autor independente, começa no dia em que resolve auto-publicar e nem sempre resulta de levar um "não" das editoras. Sabemos que hoje em dia, as editoras só publicam autores que sejam garantia de retorno, como actores, jornalistas, ou seja, figuras conhecidas dos midia que levam as pessoas a comprarem. 
Então para quê sujeitar-se a nem sequer receber resposta das editoras, depois de enviar o original? Não, não vale mesmo a pena, a não ser que seja masoquista. Em Portugal, um autor para ver o seu trabalho publicado numa editora convencional, tem que enveredar pela edição de autor,  sujeitar-se a gastar muito dinheiro em editoras que apenas imprimem os livros (gráficas disfarçadas) e depois deixam o autor com os livros para vender por conta própria. Provavelmente no Brasil funciona de forma igual. Embora existam casos de sucesso, penso que se contam pelos dedos das mãos quem tenha conseguido ser aceite numa editora convencional. Em Portugal um dos casos de sucesso, é o caso de Pedro Chagas Freitas, que começou em edições de autor na CHIADO, e mais tarde apareceu com outra chancela, mas, só depois de muito trabalho de marketing.  

Muito trabalho o espera!
 Depois de escrever, revisar e editar sozinho, ainda tem a capa do livro por fazer. Se é uma pessoa com múltiplas competências então conseguirá fazer tudo sozinho, utilizando as diversas ferramentas disponíveis online ( Photoshop, Canva etc). Mas também não tem que fazer tudo sozinho. Pode encontrar alguém que lhe faça a capa por um preço muito em conta ( pesquise capistas online e encontra rapidamente), e peça a uma pessoa da sua confiança para lhe fazer uma primeira leitura do livro, e depois  a outra que o ajude na revisão e, finalmente, alguém que faça a última revisão ( aquelas coisas minúsculas que nos escapam, mesmo depois de dez passagens), e só então publique o seu livro. Convém que não tenha erros mas, se tiver, ainda que poucos, a amazon irá avisá-lo para que os corrija e dá-lhe todos os pormenores do que deve corrigir. 

De inicio parece que está tudo mal. O livro não vende e o autor começa a conceber uma forma de reverter o problema; é quando descobre que tem que utilizar o marketing  e sobretudo escrever mais livros. Escrever mais é a melhor forma de marketing. Quando tem dois ou três livros publicados começa então a ver a sua renda mensal a aumentar ( comigo foi assim) e o entusiasmo para escrever mais, cresce. Os leitores voltam sempre para ler um dos seus livros novos e, ao continuar a escrever, consegue até ressuscitar os livros mais antigos. 

Ao fim de algum tempo o autor independente, percebe que tem que encontrar formas de divulgar o seu trabalho. Cria página de Facebook, Instagram, Pinterest e mais importante que estas ferramentas, é ter um blog. Crie um na Wordpress, ou na Blogger, conforme se sinta mais confortavel com a tecnologia. O meu é da Blogger e tem dominio personalizado, mas acredito que a Wordpress lhe dará um maior retorno, no entanto, pela facilidade que tenho com a tecnologia da Blogger, mantenho-me fiel. 
Uma, senão a maior vantagem da auto-publicação é que os livros estão sempre lá. Não são retirados de circulação como acontece com a publicação tradicional e, como já referi antes, cada vez que lança um livro, está a ressuscitar os anteriores, porque, se os leitores gostarem do que escreve, procuram outras obras suas. Persista. 

A formula do sucesso é a qualidade. Qualidade da escrita, da apresentação do livro, profundidade dos personagens e pertinência da história. No entanto, fique o aspirante  a autor independente descansado que existe mercado para todos os nichos. Nos blogues sobre literatura, sobretudo os brasileiros, vêem-se muitas criticas sobre a ascensão dos livros eróticos, uma vez que estão quase sempre no top de vendas.  Estar no top, nem sempre quer dizer que é o mais vendido, uma vez que existem vários factores para a ascensão do livro, desde as vendas, ao número de criticas.  Até há algum tempo muitas delas eram fraudulentas - alguns autores pediam a amigos e conhecidos que fizessem criticas -, felizmente a amazon tem forma de escrutinar a proveniência das mesmas e, à mínima ligação, não publica a critica. Portanto, não se preocupem se tiverem qualidade vão vender, e já agora vos digo que a qualidade é subjectiva. O que é qualidade para uns pode não ser para outros. Por isso haverá leitores para todos os géneros, e para si também. Não tenha medo do sucesso dos outros autores, eles não são seus inimigos. Por vezes os piores inimigos dos escritores, são os colegas. Seja carinhoso e gentil com os outros, ainda que ele ou ela, não escreva o seu género preferido. 

Onde é que se vendem livros em Português? Em todo o mundo, porque a língua portuguesa está espalhada por aí - o português de Portugal e o português do Brasil. Não tenha receio de escrever em português, vai encontrar mercado para si de certeza. Mas onde?, pergunta o autor. Respondo que sobretudo no Brasil. A maioria dos meus leitores são brasileiros, embora já tenha conquistado uma pequena percentagem de portugueses que utilizam a amazon espanhola, porque, infelizmente em Portugal ainda não existe amazon. 

E deveria escrever em Português de Portugal ou do Brasil?  Fica ao seu critério. Até agora tenho escrito em português de Portugal e não deixei de vender no Brasil por causa disso, no entanto, reconheço que venderia mais se escrevesse em português do Brasil e, em atenção aos meus leitores, o próximo livro terá as duas versões, a leitura é mais prazerosa se os termos forem conhecidos. 

É fácil receber o dinheiro que ganha com os seus livros. Pessoalmente recebo através da Payonneer, um cartão Mastercard. A Payonneer pertence ao Bank of América e é bastante eficiente. Você consegue controlar quando recebe e quando gasta através da sua conta online. A melhor forma de usar este cartão é fazendo pagamentos, ou seja, use normalmente, ao invés de fazer transferências para a sua conta de origem, no seu país.  A AMAZON, obriga a ter uma conta num banco Americano para receber o dinheiro por transferência bancária, caso contrário terá que receber por cheque e demora muito mais tempo. Na Payonneer é certinho, ao dia 29 já tem o dinheiro na sua conta. 

Porquê publicar na AMAZON? Por diversos motivos, mas principalmente pela facilidade de trabalho e qualidade da plataforma, quer dos ebooks ( www.Kdp.com), quer da impressão sob demanda (www.createspace.com) As duas plataformas já possibilitam a impressão em papel, no entanto eu continuo a preferir a Createspace para publicar em papel, tem mais possibilidades de layout. Outra das razões é a financeira. Você recebe 70% nos ebooks ( se tiver exclusividade com a amazon) e pode usufruir de algumas ferramentas de marketing que lhe possibilitam divulgar o livro, e 35% nos livros em papel. Ora, considerando que as editoras tradicionais apenas pagam cerca de 10% do preço de capa, ao autor, vale a pena publicar de forma independente. 

Até breve! Caso tenham dúvidas, posso esclarecer através da caixa de contacto.