1 - O diálogo interno replica a vida real.
Quando escrevemos, nós queremos que o nosso trabalho seja
sentido como autêntico (mesmo que se passe num planeta estranho, inclui mágica,
ou tem dragões e elfos que vivem ao lado do nosso personagem. Queremos que o
leitor sinta que essas pessoas (ou seres estranhos) poderiam ter vivido e feito
as coisas que descrevemos. Quando me lembro do Harry Potter, penso sempre que
aqueles seres estranhos existem mesmo e é isso que dá magia ao livro ao filme (confesso
que só vi os filmes) e nos mantêm colados à história.
No dia-a-dia, estamos sempre percebendo coisas acontecendo
ao nosso redor, tentando resolver problemas, e conversando com mais ou menos
intensidade. Se quisermos que nossos personagens pareçam reais, é preciso que
eles façam a mesma coisa. Os personagens pensam e falam consigo próprios, ou
seja, estabelecem um diálogo interno que nos transporta ao longo do livro.
Como aplicar isso ao nosso livro de ficção:
Certifique-se de que o seu personagem reage a acontecimentos
importantes por meio do diálogo interno. Por exemplo, se revelar uma de
informação chocante o personagem tem que reagir ( chora, grita, fica sisudo,
etc…) sozinho e deixando fluir os seus pensamentos através do discurso interno.
Só assim o leitor se interessa pela história, caso contrário o leitor
abandona-a. Se você estiver a ler um livro onde aconteceu um drama ao
personagem e ele fica igual – a não ser que seja propositado, como ficar em
choque – você também não vai gostar pois não? Lembre-se que a ficção é suposta
ser "melhor" do que a vida real em alguns aspectos. Isso significa
que não devemos partilhar cada pensamento que passa pela cabeça de nosso
personagem, mas apenas os que são importantes, senão corremos o risco de um
livro se tornar aborrecido e o personagem também. Nós só partilhamos os
pensamentos que importam para a história, inclusive para o crescimento
emocional do personagem.
2 - O diálogo interno
cria uma ligação mais profunda entre o leitor e os personagens.
Para um leitor que investe o seu tempo a ler a nossa história,
precisa de se importar com que acontece ao personagem. O diálogo interno é uma
das ferramentas à nossa disposição para fazer o leitor se importar porque ele
cria uma ligação íntima entre o leitor e o ponto de vista do personagem. Nós
ouvimos os seus pensamentos, da mesma forma que ouvimos os nossos, o que nos
permite como leitores, partilhar os seus sentimentos e preocupações,
experimentando-os como nossos. Conhecemos melhor o personagem, e ele fica mais
real para nós por esse motivo.
Como aplicar isso ao nosso livro de ficção:
Uma grande parte do diálogo interno resume-se a que o nosso
personagem forme opiniões sobre o que está acontecendo ao seu redor. Certifique-se
que a deixa julgar e interpretar os acontecimentos e as pessoas que encontram.
Isso mostra a sua personalidade de uma forma profunda e pessoal, porque o
personagem não está tentando colocar uma máscara para o mundo exterior. Os seus
pensamentos privados são destinados apenas para si. Eles são honestos e crus. Se
no final o personagem descobrir que afinal estava errado ainda mais
credibilidade vai ter junto do leitor. Há dia uma leitora comentava comigo,
acerca do meu livro
A Prenda da Noiva que o factor surpresa e o diálogo interno
da personagem não a deixavam despegar do livro. Para além de ficar muito “babosa”,
é sempre muito gratificante receber respostas gratificantes dos nossos
leitores, levou-me a pensar em escrever sobre esse tema.
3 - O diálogo interno ajuda a controlar o
ritmo do livro.
A estimulação do leitor na ficção é como criar o passeio
perfeito numa montanha russa. Se você subiu uma montanha-russa, e a seguir cai
no precipício não houve antecipação do que irá acontecer a seguir, portanto não
teve graça. Para ser bom tem que passar por vários níveis. Na escrita tem que
existir um planeamento rigoroso do andamento do livro e, no caso do diálogo
interno da personagem, passa por ir desvendando aos poucos a sequência da
acção.
Como aplicar isso ao nosso livro de ficção:
Se todo o nosso livro é composto de cenas de acção de alta
velocidade, os nossos leitores vão ficar tão aborrecidos como se em todo o
nosso livro o personagem fica sentado e é só pensamento. Precisamos do diálogo
interno para criar a expectativa para a acção, permitir que o leitor respire e
se prepare para a próxima cena. Para fazer isso, devemos ter pequenas sequelas,
seguir o nosso personagem em adiamentos e indecisões até à decisão final, que
pode ser certa ou errada. No meu próximo livro “Cortesã de Luxo”, a personagem
principal resiste bastante a enveredar pela vida que abomina e rejeita e, antes
que o leitor a veja cair ela tem várias “quedas” mais pequenas que induz o
leitor a ter esperança e até a formular o próximo passo da personagem.
4 - O diálogo interno
minimiza a confusão ao revelar motivações.
O coração da ficção é o “porquê”. Porque é que o nosso
personagem principal está agindo daquela forma? Por que ela quer alcançar seu objectivo
tão depressa que ela está disposta a sofrer as possíveis consequências?
Quando essas motivações não são claras para o leitor, este
acaba quer sentir-se confuso ou menos preso à história. Quando o leitor não
sabe ou não entende as motivações do nosso personagem e as suas acções parecem
aleatórias e estúpidas convém não o deixar muito tempo nessa situação.
Como aplicar isso ao nosso livro de ficção:
Tem que ser claro quanto às acções do personagem, porque é
que ela está fazendo aquilo ou tomando aquela decisão. Se não for claro o
leitor abandona o livro. Não perca muito tempo em descrições que não levam a
lado nenhum, apenas são palavras para encher o texto.
5 - O diálogo interno
transmite informações que não podem ser dadas de qualquer outra forma.
Se, por exemplo, você tem um personagem que precisa enganar
todos ao seu redor, você vai pôr a agir de uma maneira e pensar de outra.
Outro exemplo disso são as influências que os nossos personagens sofrem e porque
eles agem de determinada forma.
Eles não podem pensar que os eventos do seu passado estão
influenciando a sua vida, porque eles não teriam nenhuma razão para falar sobre
isso com mais ninguém e o livro acabaria, mas podemos fazer o leitor ficar
ciente da importância do passado do personagem através de seus pensamentos, do
diálogo interno.
Como aplicar isso ao nosso livro de ficção:
A chave é partilhar uma única história de fundo que é essencial
para todo o livro e alimentar a história com um conta-gotas, ou seja, aos poucos,
e usar um evento no presente para accionar os pensamentos do nosso personagem
sobre os acontecimentos passados. Em “A Cortesã de Luxo”, um acontecimento político
da época (1938) em Portugal, junta o par amoroso do livro.
Caros leitores. Apresento-vos a minha marca de autora
independente. O próximo livro a ser publicado e finais de Janeiro terá este símbolo na capa e
sempre que o vejam associem-no aos meus livros, aos livros de Lídia Craveiro.
A autora deixou o pseudónimo por enquanto. Seria caso para um titulo do género:
“ A autora que
matou o seu pseudónimo”?
Com afecto, até ao
próximo post. Nas próximas semanas vou dedicar-me na integra ao livro.