domingo, 26 de abril de 2015

O PROCESSO CRIATIVO


Quem escreve sabe que cada escritor o faz de forma diferente. Os recursos internos que cada um usa para criar são completamente díspares. Se perguntar a dez escritores como fazem para criar a história, obterá provavelmente alguns consensos mas ainda assim, bastantes diferenças. Sentar-se ao computador e escrever – ou à mão – e olhar para uma página em branco pode ser aterrador mas para também um desafio e um prazer enorme. Para mim tornou-se em algo do qual já não prescindo. Todos os dias escrevo nem que sejam apenas algumas frases.  
Para criar preciso de silêncio e muito raramente uso música – apenas quando tenho alguém por perto para servir como barreira – e é pela manhã que as ideias fluem com mais facilidade. Há quem funcione precisamente ao contrário: escrevem de noite ou de tarde. Portanto são processos individuais que não obedecem a receitas, tal como na psicanálise, cada caso é um caso.  
Depois de delinear o enredo, pensar nas personagens que vou envolver na história e fazer as respectivas biografias e características físicas e psicológicas, esquematizo os capítulos um a um. Só depois deste processo concluído – o que consome sempre mais tempo que escrever – é que passo à escrita do livro o que em geral não demora mais de dois meses.
Terminado um primeiro esboço do livro deixo-o repousar algumas semanas enquanto penso noutra história e só depois faço uma segunda revisão acrescentando ou retirando frases, factos, aspectos dos personagens ou excesso de palavras para descrever uma cena ou cenário. O processo repete-se e depois de algum tempo em que me distancio o suficiente do livro, volto a rever tudo. Concluída a segunda revisão imprimo o romance e peço a um leitor Beta que o leia, assinale erros e buracos na história e dê a sua opinião. Este processo que passei a utilizar recentemente facilita muito a tarefa de revisão, difícil é encontrar alguém que esteja disposto a isso e seja de confiança. Podemos sempre usar os comentários da plataforma da Wattpad, mas também é um processo complicado. Quem não tem tempo para acompanhar as histórias dos outros leitores acaba por também não ter muitos leitores, já que funciona – e muito bem – por troca de leituras.
Escrevo em qualquer lado tal como faço com a leitura: na secretária, dentro do carro numa paisagem campestre – escrevi alguns capítulos de “Gabrielle” na serra da Estrela em Portugal e em Font Romeu na França enquanto a família esquiava-, no avião ou na rua quando me lembro de algo e anoto num bloco que me acompanha sempre.
Se você é daqueles escritores que fica stressado se não escrever todos os dias, porque acha que não está a criar nada, não fique. Mesmo se não estiver a escrever está certamente a pensar como vai organizar o seu próximo livro ou até como vai escrever o próximo capitulo e, tudo isso faz parte do processo criativo. Basta estar a pensar para estar a criar.



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